terça-feira, 12 de junho de 2012

história das religiões


RELIGIÃO

EM BUSCA DA TRANSCENDÊNCIA

O QUE É RELIGIÃO? QUAL A DIFERENÇA DE SEITA?

MITOLOGIA É RELIGIÃO? O QUE É HERESIA?
RELIGIÃO deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.
Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo. SEITA, derivado da palavra latina "Secta", nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião.
HERESIA é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judáica assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta.
MITOLOGIA é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião.
MÍSTICA pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material. Um "Mistério".

PRESENÇA DA RELIGIÃO EM TODA A CULTURA HUMANA
Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas.
Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.
Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.
Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.

TIPOS DE RELIGIÕES
Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões.
A primeira destas características e cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade.
Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros Sagrados.
Pessoalmente como um estudioso do assunto, prefiro uma classificação que leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos.
PANTEÍSTAS
POLITEÍSTAS
MONOTEÍSTAS
ATEÍSTAS
Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais "primitivas". Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, européia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania.
As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.
Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade.
E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como um reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas.
Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas Nenhuma possui uma REVELAÇÃO propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. TODAS as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos.
Vejamos alguns quadros comparativos.


ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO.
PANTEÍSMO:As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham predominância absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania.
POLITEÍSMO:Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações mais avançadas das Américas pré-colombianas.
MONOTEÍSMO:Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e predominando da Idade Média até a atualidade.
ATEÍSMO:Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais filosófica que religiosa.
Neo PANTEÍSMO:Embora possuam representantes em todos os períodos históricos, popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII.



BASE LITERÁRIA
PANTEÍSMO:Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de base escrita, sendo transmitidas por tradição oral.
POLITEÍSMO:Nas sociedades letradas possuem frequentemente registros literários sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas.
MONOTEÍSMO:Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos como detentores de verdades absolutas.
ATEÍSMO:Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não possuindo entretanto força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios ou seres iluminados.
Neo PANTEÍSMO:Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam mais força doutrinária, não incorrendo porém em dogmas arbitrários.



MITOLOGIA
PANTEÍSMO:Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é comum também o culto aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a natureza, e o mundo comummente é tido como eterno.
POLITEÍSMO:Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se relacionam de forma tensa com os seres humanos, não raro hostil. As lendas dos deuses se assemelham a dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos.
MONOTEÍSMO:Um Ser transcendente criou o mundo e o ser humano, há uma relação paternal entre criador e criaturas. Na maioria dos casos um semi-deus se rebela contra o criador trazendo males sobre todos os seres. Messias são enviados para conduzir os povos, profetiza-se um evento renovador violento no final dos tempos, onde a ordem será restaurada pela divindade.
ATEÍSMO:O Universo é uma emanação de um princípio primordial "vazio", um Não-Ser. Crê-se na possibilidade de evolução espiritual através de um trabalho íntimo, crê-se em diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e geralmente em reencarnação.
Neo PANTEÍSMO:Acredita-se em geral no Monismo, um substância única que permeia todo o Universo num Ser único. São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A desatribuição de qualidades do Ser supremo por vezes as confunde com o Ateísmo.



SÍMBOLOS
PANTEÍSMO:Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos.
POLITEÍSMO:Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos resultando em formas de escrita ideográfica.
MONOTEÍSMO:O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos.
ATEÍSMO:O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo.
Neo PANTEÍSMO:Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e reinterpretados, também não há representação específica do Ser Supremo mas pode haver de outros seres elevados.



RITUAIS
PANTEÍSMO:Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É comum o uso de infusões de ervas, danças, oráculos e cerimônias ao ar livre.
POLITEÍSMO:Passam a surgir os templos, embora em geral não abandonem totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos casos ocorrem os sacrifícios humanos, oráculos e as feitiçarias de controle ambiental.
MONOTEÍSMO:Geralmente restritas ao templos, as hierarquias ritualistas são mais rígidas, não há oráculos pessoais mas sim profecias generalizadas com base no livro sagrado. Não há rituais de controle ambiental.
ATEÍSMO:Embora ainda comuns nos templos são também frequentes fora destes. Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação mais específicas, baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e emoções.
Neo PANTEÍSMO:Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não mais têm influência nos processos civis, sendo restritos a curas, proteção contra ameaças físicas e extrafísicas.



EXEMPLOS
PANTEÍSMO:Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc.
POLITEÍSMO:Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião Azteca, Maia etc.
MONOTEÍSMO:Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo.
ATEÍSMO:Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo.
Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso)
Neo PANTEÍSMO:Espiritsmo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo-Gnosticismo, Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc.

*Apesar do Kardecismo não se considerar Panteísta e sim antes Monoteísta.

PANTEÍSMO
As religiões primitivas são PANTEÍSTAS, acredita-se num grande "Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e etc.
Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais.
A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito divino. Embora haja a tendência da predominância de um presença mística feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o Feminino e Masculino universal.
É um domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a subjetividade e a síntese, não sendo então casual que este seja o tipo religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais significativa que a de seus equivalentes masculinos.
Todas essas religiões são ágrafas, sem escrita, com exceção é claro dos NeoPanteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da tradição oral e de vestígios arqueológicos.

POLITEÍSMO
Com o tempo e o desenvolvimento as necessidades humanas passam a se tornar mais complexas. A sobrevivência assume contornos mais específicos, o crescimento populacional hipertrofiado graças a tecnologia que garante maior sucesso na preservação da prole e da longevidade, gera um série de atividades competitivas e estruturalistas nas sociedades, que se tornam cada vez mais estratificadas.
Nesse meio tempo a influência racional em franca ascensão tenta decifrar as transcendentes essências espirituais da natureza. Surge então o POLITEÍSMO, onde os elementos divinos são então personificados com qualidades cada vez mais humanas. O que era antes apenas a Água, um ser de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada a água.
No princípio as características dessas divindades não são muito afetadas, mas com o tempo, a imaginação humana ou a tentativa de se adequar as religiões às estruturas sociais, elas ficam cada vez mais parecidas com os seres humanos comuns, surgindo então entre os deuses relacionamentos similares aos humanos inclusive com conflitos, ciúmes, traições, romances e etc. E cada vez mais os deuses perdem características transcendentes até que a "degeneração" chegue a ponto destes se relacionarem sexualmente com seres humanos, o que significa a perda da natureza metafísica, da característica invisível, ou mais, de haver relações físicas e pessoais de violência entre humanos e divindades, sem qualquer caráter transcendente.
Em muitos casos é difícil distinguir com clareza se determinadas religiões são Pan ou Politeístas. Mesmo no estágio Panteísta por vezes pode-se identificar com muita evidência algumas personificações das entidades divinas, mas algumas características como as citadas no parágrafo anterior são exclusivas do politeísmo. É possível que os elementos que contribuam ou realizem essa transição sejam o Animismo, Fetichismo e Totemismo.
Ocorre também uma relativa equivalência entre deidades femininas e masculinas, embora as masculinas mostrem sinais de predominância a medida que o sistema de crenças se torne mais mundano, características de uma fase mais racional e técnica onde muitas vezes a religião politeísta caminha junto com filosofias da natureza.
É sempre nesse estágio também que as sociedades desenvolvem escrita, ou pelo menos passa a utilizar símbolos abstratos e códigos visuais mais elaborados, no caso do politeísmo asiático, egípcio e europeu por exemplo, evoluiu para um sistema de escrita complexo.
Muitas destas religiões têm então, narrativas de seus mitos em forma escrita, mas tais não possuem o valor e a significância de uma Revelação propriamente dita.
Num estágio final tende a ocorrer o fenômeno da Monolatria, onde a adoração se concentra numa única divindade, o que pode ser o ponto de partida para o Monoteísmo.

MONOTEÍSMO
Chega um momento onde o Politeísmo está tão confuso, que parece forçar o "inconsciente coletivo", ou a "intuição global" a buscar uma nova forma de crença. Alguém precisa pôr ordem na casa, surge então um poderoso Deus que acaba com a confusão e se proclama como o Único soberano. Acabam-se as adorações isoladas e hierarquiza-se rigidamente as deidades, de modo a se submeter toda a autoridade do universo a um ente máximo.
O MONOTEÍSMO não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania absoluta de uma. A própria teologia judáico-cristã-islâmica adota hierarquias angélicas que são inclusive encarregadas de reger elementos específicos da natureza.
Um elemento que caracteriza mais claramente o MONOTEÍSMO mais específico, Zoroastrista, Judáico, Cristão, Islâmico e Sikh, é antes de tudo a ausência ou escassez de representações icônicas do Deus supremo, e sua desatribuição parcial de qualidades humanas, nem sempre bem sucedida. Já as entidades secundárias são comumente retratadas artisticamente.
A própria mitologia grega através da Monolatria, já estaria a dar sinais de se dirigir a um monoteísmo similar ao que chegou a religião Hindu, ou a egípcia com a instituição do deus único Akhenaton, embora ainda impregnadas fortemente de Politeísmo a até de reminiscências Panteístas no caso do Bhramanismo. Zeus assomava-se cada vez mais como o regente absoluto do universo. Entretanto um certo obstáculo teológico impedia que tal mitologia atingisse um estágio sequer semi-Monoteísta. Zeus é filho de Chronos, neto de Urano, essa descendência evidencia sua natureza subordinada ao tempo, ele não é eterno ou sequer o princípio em si próprio, que é uma característica obrigatória de um Deus Uno e absoluto como Bhraman ou Jeová.
Um fator complicador é que todas essas religiões apesar de seu princípio Uno, são também Dualistas, pois contrapõem um deus do Bem contra um do Mal. Entretanto não se presta "Sob Hipótese Alguma!", qualquer culto ao deus maligno, como ocorre nas Politeístas. Saber se o deus maligno está ou não sujeito afinal ao deus supremo é uma discussão que vem rendendo há mais de 3.000 anos.
Diferente do estado Panteísta original não ocorre harmonia entre os opostos, e um deles passa a ser privilegiado em detrimento do outro. Sendo assim onde antes ocorria a divinização dos aspectos Masculinos e Femininos do Universo, e a sacralidade da união, aqui ocorre a associação de um com o maligno, fatalmente do elemento Feminino uma vez que todas as religiões monoteístas surgiram na fase patriarcal da humanidade.
O Bhramanismo sendo o mais antigo, ainda conserva qualidades tais como veneração a manifestações femininas da divindade, não condena a relação sexual e ainda detém a crença reencarnacionista que é uma quase constante no Panteísmo. Do Politeísmo guarda toda um miríade de deuses personificados, com estórias bastante humanas que envolvem conflitos e paixões. Mas a subordinação a um Uno supremo, no caso representado pela trindade Bhrama-Vinshu-Shiva, é clara. O panteão anterior Hindu foi completamente absorvido pelo monoteísmo Bhraman, e conservou até mesmo a deusa Aditi, que outrora fora a divindade suprema.
Já os monoteísmos posteriores, mais afastados do fenômeno panteísta, entram em choque mais evidente com o Politeísmo que geralmente está em estado caótico. Ocorre um abafamento da religião anterior pela nova e seu caráter patriarcal e associado a violência, especialmente a partir do Judaísmo, se impõe de forma opressiva. As divindades femininas são erradicadas ou demonizadas, sendo então obrigatoriamente associadas ao elemento maligno do universo. Esse fenômeno acompanha a queda da condição social feminina na sociedade.
Embora as teologias monoteístas, especialmente na atualidade, se esforcem para afirmar o contrário, o deus único Hebreu, Cristão e Islâmico, basicamente o mesmo, assim como o do anterior Zoroastrismo e posterior Sikhismo, são nitidamente masculinos, aparentemente renegando o aspecto feminino divino do universo, mas na verdade o absorvendo, uma vez que ao contrário de deuses "supremos" Politeístas como Zeus, Osíris e Odin, eles são carregados de atribuições de amor e compaixão, embora ainda conservem sua Ira divina e seus atributos violentos, o que resulta em entidades complexas, que possuem aspectos paternos e maternos simultâneamente.
Tal como a própria emocionalidade, esse é o período mais contraditório da evolução do pensamento Teológico. Apesar de estar sob o domínio de uma característica de predominância subjetiva, é o momento onde as sociedades se mostraram paradoxalmente mais androcráticas. Os elementos femininos são absorvidos pelo Deus Único dando a ele o poder de atrair e seduzir as massas pela sua bondade, mostrando sua face benevolente, mas por outro lado a espada da masculinidade está sempre pronta a desferir o golpe fatal em quem se opuser a sua soberania.
Tal união, confere aos deuses monoteístas um poder supremo inigualável, e tal contradição, tal desarmonia intrínseca, resultou não por acaso no período religiosamente mais violento da história. As religiões monoteístas, especialmente o trio Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, são as mais intolerantes e sanguinárias da história.

ATEÍSMO
As religiões aqui caracterizadas como Ateístas negam simplesmente a existência de um Ser Supremo central, que tudo tenha criado e a tudo controle, e talvez seja nesse grupo que se sinta mais radicalmente a ruptura entre Ocidente e Oriente, mas basicamente o Ateísmo religioso tende a funcionar da seguinte forma.
Se o Monoteísmo tenta acabar com o "pandemonium" Politeísta e estabelecer uma nova ordem por algum tempo, acaba por também se mundanizar. As autoridades religiosas interferindo fortemente na política e na estruturação social, enfraquecem como símbolos transcendentes. A inflexibilidade fundamentalista do sistema se revela injustificável ante a problemática social e as conquistas e descobertas filosóficas e científicas e num dado momento o sentimento de descrença é tal que deixa-se de acreditar num deus. Surge o ATEÍSMO.
Esse é o ponto crucial, a razão pela qual de fato não acredito que existam Ateus no sentido mais profundo do termo, no máximo "agnósticos".
Geralmente o ateu não é aquele que desacredita do "invisível", de qualquer forma de Téos, mas sim o que descrê dos deuses personificados e corrompidos. Afinal até o mais materialista e cético dos cientistas trabalha com forças invisíveis! Fenômenos da natureza ainda inexplicáveis.
Gravitação Universal, Lei de Entropia, Mecânica Quântica e etc. não podem ser vistas! Apenas seus efeitos. Tal como sempre se alegou com relação aos deuses.
No que se refere a uma visão do Princípio, não creio fazer diferença acreditar que um corpo é atraído para o centro da Terra por uma força invisível da natureza ou pela vontade de um deus também invisível. Há apenas uma maior compreensão racional do fenômeno, com maiores resultado práticos, mas de um modo ou de outro, a explicação possui um certo caráter de fé, tão racionalmente satisfatório para o cientista quanto para o religioso, capaz de explicar com clareza o funcionamento do mundo e mesmo quando isso não ocorre, admiti-se como mistérios divinos, ou causas científicas ainda desconhecidas.
No caso do Oriente, o Ateísmo religioso surge principalmente na Índia, sob a forma do Budismo e do Jainísmo, e na China, sob o Taoísmo e o Confucionismo. Todas essas religiões possuem textos base com certo grau de respeitabilidade mística ou filosófica, mas o grau de liberdade com que se pode reinterpretar ou mesmo discordar destes textos é incomparável em relação aos livros sagrados Monoteístas.
E nesse nível que muitas posturas passam a ser desconsideradas como religiões, sendo tidas em geral como filosofias. No Ocidente, tal movimento ocorreu também na Grécia Antiga, através de Filósofos da Natureza que estabeleciam como princípio primário universal alguma "substância" completamente impessoal. Mais especificamente, Aristóteles colocava o MOTOR IMÓVEL como o princípio primário, e PLOTINO, estabelecia o UNO. Porém essa breve ascensão do Ateísmo filosófico e científico ocidental foi logo minada pelo sucesso do Monoteísmo cristão.
O Ateísmo no Ocidente só surgiu novamente após a renascença, no Iluminismo, onde outras formas filosóficas se desenvolveram, mas a mistura destas com os Neo Panteísmos e o avanço científico em geral resulta num quadro difícil de se diferenciar.
Mas o ponto mais complexo na verdade, e que Ateísmo e Panteísmo se confundem.

Religiões ATEÍSTAS e NEO-PANTEÍSTAS
As religiões Ateístas não crêem numa entidade suprema central, mas pregam a interdependência harmônica do Universo, da mesma forma que o Panteísmo.
Pregam a harmonia dos opostos como Yin e Yang, da mesma forma que a harmonia entre a Deusa e o Deus no Panteísmo, e constantemente adotam um posição de neutralidade em relação aos eventos.
Provavelmente não por acaso TAOÍSMO e BUDISMO são as mais avançadas das grandes religiões num sentido metafísico, racional e mesmo científico. São imunes a contestação racional pois seus conceitos trabalham num plano mais abstrato mas ao mesmo tempo capaz de explicar a realidade, e fartos de paradoxos escapistas, sendo extremamente mais flexíveis que as religiões monoteístas por exemplo. Não há casos significativos de atrocidades cometidas em nome destas religiões em larga escala como as monoteístas ou nas politeístas monolátricas.
Porém, barreiras intransponíveis impedem que essas religiões sejam nesse esquema de divisão, classificadas como Panteístas. TAOÍSMO e CONFUCIONISMO que são chinesas equanto o BUDISMO e o JAINISMO Indianos, são religiões letradas. Possuem seus escritos fundamentais como os Sutras Budistas, o Tao Te-King Taoísta e os Anacletos Confucianos e os textos dos Tirthankaras Jainistas. Todas possuem seus mentores, Buda, Lao-Tsé, Confúcio e Mahavira. E todas são muito desenvolvidas filosoficamente, por vezes sendo consideradas não religiões, mas filosofia. Todas essas características inexistem no Panteísmo primitivo.
Portanto isso me leva a classificá-las como RELIGIÕES ATEÍSTAS, por declararem a inexistência de um Ser Supremo. Pelo contrário, o TAO ou o NIRVANA, o centro de todo o Universo segundo o Taoísmo e Confucionismo, e o Budismo, são uma espécie de Vazio, um Não-Ser.
Já o Neo-Panteísmo possui sim seus textos. É o caso do Espiritismo Kardecista, do Bahaísmo, do Racionalismo Cristão e etc. Embora muitos insistam em negar-se como Panteístas se inclinando para o Monoteísmo, porém uma série de fatores a distanciam muito deste grupo. Tais como:
A ênfase atenuada dada ao livro base da doutrina, que embora seja uma revelação, não tem o mesmo peso dogmático e em geral se apresenta de forma predominantemente racional. A postura passiva e não proselitista, e muito menos violenta, do Monoteísmo tradicional. A caraterização de seu fundador que mesmo sendo dotado de dons supra-naturais, não reivindica deificação e nem mesmo reverência especial. E o mais importante, diferenciando-as principalmente do Monoteísmo "Ocidental", o tratamento totalmente diferenciado dado a questão da existência do "Mal". Esses são alguns exemplos que tendem a afastar essas novas religiões, que prefiro agrupar na categoria Neo-Panteísmo, do grupo das Monoteístas.
PANTEÍSMO
=>
Deus é Tudo
POLITEÍSMO
=>
Deus é Plural
MONOTEÍSMO
=>
Deus é Um
ATEÍSMO
=>
Deus é Nada


Evidentemente, afirmar que DEUS é TUDO é muito similar a afirmar que é NADA. O ZERO é tão imensurável e incalculável quanto o INFINITO. Eles não podem ser medidos ou divididos, assim como não se divide por eles.
Vale lembrar que não se pode também rotular tal ou qual religião como meramente Pan, Poli ou Monoteísta. Muitas passaram pelas várias fases nem sempre de maneira perceptível e consensual. O próprio Budismo tem várias escolas bastante diferentes entre si, e mesmo o Cristianismo tem suas variantes com direito a reencarnação e sexo tântrico, e cujas atribuições de Deus o afastam das características monoteístas. Mas o processo macro, inconsciente, me parece ser esse! O de fases "psicohistóricas" que vão na forma:
?-PANTEÍSMO-POLITEÍSMO-MONOTEÍSMO-ATEÍSMO-?PANTEÍSMO
Outro ponto importante é que jamais uma dessas formas religiosas deixou de existir totalmente, principalmente na atualidade onde a intolerância religiosa não é mais "tolerada" na maior parte do mundo. Esses tipos de religiões se misturam e se confundem, o que explica porque qualquer tentativa de se classificar as religiões é tão complexa.
Até mesmo essa divisão esquemática apresenta problemas, como a notável diferença entre o Monoteísmo "Ocidental", Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, fortemente interligadas, o Monoteísmo Oriental, Hindu, Bhramanismo e Sikhismo, e o sempre complexo Zoroastrismo, de características fortemente Maniqueistas, o que viria por vezes a suscintar a questão de se o Maniqueísmo, que tem forte influência sobre o Gnosticismo e o Catolicismo, poderia ser considerado Monoteísta.
SÍMBOLOS 
O mantra sagrado "OM" ou "AUM" Hindu. Representa o "Som" primordial.A Roda do DHARMA budista, ou "Roda da Vida".
Tei-Gi do Taoísmo. Simbolizando a interdependência dos princípios universais Yin e Yang.A estrela de Davi. Um dos símbolos do Judaísmo e do estado de Israel.
A cruz do Cristianismo. Encruzilhada entre o material e o espiritual.A Lua e Estrela Muçulmana, oriunda de um dos mais antigos estados a adotar o Islã.
Nenhuma religião em especial mas algumas igrejas protestantes costumam usar um livro como símbolo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

livros poéticos e sintese do livro de Jó


 Livros Poéticos – 5. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Estes cinco livros que ficam no meio dos livros históricos e proféticos são muitos diferentes do que aqueles que vem antes ou depois deles. Os livros poéticos não são históricos. Os outros livros são históricos: contam a história do povo de Israel. Estes livros são experimentais. Os livros históricos falam de uma nação como tal, da nação hebraica. Os livors poéticos não tratam da nação de Israel, mas tratam de assuntos individuais do coração. Os livros poéticos falam de indivíduos como tais, do coração humano. Os livros poéticos não são a única poesia encontrada no Velho Testamento. Estes livros são o grupo poético de livros. Os livros poéticos falam das experiências da vida, da relação do coração com Deus e da intimidade que o salvo tem com Deus.
4. Observe os livros poéticos individuais. Jó nos ensina como vencer no sofrimento e morrer a nós mesmos. Salmos nos ensinam como é a vida nova em Cristo que se manifesta em várias virtudes divinas. Provérbios nos ensinam a sabedoria divina aplicada para nossa vida aqui na terra. Eclesiastes nos ensina que nada aqui em baixo do sol dá a satisfação e felicidade verdadeira. Mas que o sentimento certo da vida é temer a Deus e guardar os seus mandamentos. Este é o dever de todo o homem. Cantares de Salomão nos ensina de maneira simbólica como é o amor e a intimidade da comunhão com Cristo aqui no mundo. Nenhum crente (salvo) chega para esta comunhão com Cristo sem passar pelas outras coisas primeiro. Revise tudo para ver. É um progresso espiritual que devemos observar.
5. Veja a quantia da poesia hebraica. É óbvio que o povo hebraico escreveu muita poesia sobre muitos assuntos variados. Nem toda a poesia que eles escreveram chegou para fazer parte da Bíblia. Exemplos: I Reis 4:29-33, Números 21:14, Josué 10:13. poesia era a maneira popular para escrever em Israel e chegou uma grande quantia.
Poesia Hebraica
Devemos dizer algumas palavras sobre a natureza da poesia hebraica. Porque ela difere muito da poesia encontrada no mundo em vários dos seus aspectos.
Uma grande parte da poesia do mundo apóia-se na rima (no paralelismo sonoro) e no ritmo de tempo. Na rima atingimos o prazer da concordância fonética. No ritmo atingimos o prazer da concordância métrica. Mas na poesia hebraica não é a rima nem o ritmo de sons, mas é o paralelismo de idéias ou verdades. Isso pode ser de três maneiras: completivo, contrastante e construtivo.
1. Exemplos do completivo (progressivo): Salmo 92:12, Salmo 46:1, Salmo 19:7 e Salmo 30:11. O segundo pensamento coincide com o primeiro, mas não é igual, porque desenvolve, enriquece, completa e colore o primeiro pensamento. Observe Salmo 1:1 que faz isso três vezes, isso é chamado ternário. O Salmo 1 é um bom exemplo do completivo ternário (triplo).
2. Exemplos do contrastante (antitético ou contrário). O livro de Provérbios contém muitos deles. Provérbios 3:5, Provérbios 27:6, Salmo 30:5, Provérbios 14:11, Salmo 32:10. Pode ver que o segundo pensamento contrasta com o primeiro pensamento. Algumas vezes também há dois pensamentos (versículos) que contrastam entre si. Salmo 37:10-11. Veja o exemplo de uma sucessão de paralelos contrastantes. Isaías 65:13.
3. Exemplos do sinônimo: Salmo 2:4, Provérbios 1:8. Nestes versículos a segunda linha repete o mesmo pensamento da primeira linha em outras palavras. Este exemplo é quase igual ao exemplo 1, o completivo,
4. Exemplos do construtivo: Provérbios 30:17, Salmo 21:1-2, Salmo20:7-8. O belo desenvolvimento dos versículos é facilmente perceptível. Naturalmente, ainda tratando dos paralelos construtivos, devemos observar que existem variedades deles. Por exemplo, há o paralelismo introvertido. Salmo 135:15-18. Veja em baixo. Vemos aqui que o primeiro versículo corresponde ao último, pois no primeiro lemos os ídolos dos gentios e no último aparece simplesmente um outro nome para os gentios, a saber, todos os que confiam neles (nos ídolos). A seguir, observamos que o segundo versículo corresponde ao penúltimo, pois ambos falam da feitura de ídolos (num caso, a obra; no outro, os feitores).
Os ídolos dos gentios são prata o ouro,
Obra das mãos dos homens.
Têm boca, mas não falam;
Têm olhos, mas não vêem,
Têm ouvidos, mas não ouvem,
Nem há respiro algum nas suas bocas.
Semelhantes a eles se tornem os que os fazem,
E todos os que confiam neles.
5. A compreensão desse paralelismo hebraico não é somente poeticamente interessante, mas muito importante para a interpretação da Bíblia. Os elementos correspondentes em cada paralelo esclarecem uns aos outros. Com freqüência as palavras obscuras são explicadas desse modo, pois a mesma idéia geralmente é encontrado na base de ambos os termos do paralelo. Algumas vezes, um elemento expressa a idéia figuradamente, enquanto o outro a expressa literalmente. Outras vezes, um elemento a expressa positivamente e o outro, negativamente. É possível também que um membro exprima o pensamento de um modo que a nós soa como fraseologia obscura, enquanto o outro o faz em palavras bastante claras, não deixando nenhuma dúvida. Por exemplo, quando lemos “O Senhor está no seu santo templo”. Salmo 135:4. Talvez nos perguntemos: “Que templo é este, o terreno ou o celestial?” Mas quando interpretamos essa declaração em seu paralelo poético vemos que está indicando o templo celestial. “O trono do Senhor está nos céus”.
6. Queremos comentar somente mais uma coisa sobre esta poesia hebraica de idéias paralelas. O caráter peculiar torna-se incrivelmente adequada à tradução para qualquer língua. É importante entender isso porque temos uma tradução da Bíblia de hebraico para português. Nada é mais difícil do que traduzir certos tipos de poesia de uma língua para outra. Quando tentamos transpor rima e ritmo de uma língua para outra, enfrentamos obstáculos quase intransponíveis e impossíveis. Mas a poesia hebraica pode ser traduzida para qualquer língua sem diminuir sua beleza ou força. E Deus soube disso, porque a Bíblia ia ser traduzida para centenas de línguas diferentes. O Deus soberano e onisciente está atrás desta maravilhosa poesia.
LIVRO DE JÓ
Introdução do livro.
Data do livro
O livro de Gênesis é o primeiro livro da nossa Bíblia, mas isso não quer dizer ele seja o primeiro para ser escrito. Há várias razões para crer que o livro de Jó seja de uma data anterior. Talvez o livro de Jó seja o livro mais antigo do mundo. Vamos observar algumas dessas razões.
1. A cabeça da família na época de Jó serviu também como o sacerdote da família. 1:5. Foi assim também na época de Abraão, Isaque e Jacó. Isso indica que Jó viveu na época deles.
2. Parece que não foi um livro divino escrito para o povo de Deus ainda, porque Jó pediu um livro assim em oração. 31:35. Não é uma menção nesse livro dos dez mandamentos nem da lei de Moisés. Também não é uma menção de Moisés, Abraão, dos juízes, dos reis de Israel nem dos profetas de Israel. Essa é outra indicação que o livro de Jó foi escrito antes que Moisés escreveu o Pentateuco.
3. No livro de Jó não vemos uma certa nação que é foi separada por Deus para ser a sua nação particular, como Israel. Então é uma razão para crer que Jó viveu antes da época da nação de Israel.
4. O tempo total que Jó viveu foi 200 anos ou mais. 1:2, 32:6, 42:16. Se fosse, isso indicaria que Jó viveu perto da época do dilúvio e Noé e Sem. Noé viveu 350 anos depois do dilúvio e Sem 502 anos depois do dilúvio. Então é possível que uma parte da sua vida de Jó sobrepôs a vida de Noé e Sem.
5. Também no livro de Jó achamos muitas coisas sobre a criação do universo. Até Jó falou sobre Beemote e Leviatã. Mostra que a ele teve contato com as pessoas que conheceram esta história pessoalmente. Estes animais gigantes (dinossauros) ainda estavam na terra na época de Jó? Tudo indica que seja. Então isso mostra que estes animais não estavam extintos ainda totalmente. Porque a extinção destes animais levou um bom tempo depois do dilúvio.
Terra de Uz
Onde ficou a terra de Uz não é sabido com certeza absoluta. Lamentações 4:21 diz: “Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz”. Este versículo indica que a terra de Uz ficou em Edom (a terra de Esaú). Edom, que foi depois chamado Iduméia, ficou para o sudoeste e sudeste do Mar Morto. Então parece que a terra de Uz ficou nesta região.
Quem foi Jó?
Provavelmente viveu no tempo de Abraão ou um pouco mais cedo. A septuaginta diz que Jó é igual ao rei Joabe em Gênesis 36:33. É a verdade? Veja os quatro amigos de Jó. Elifaz: Gênesis 36:11, parente de Esaú? Bildade: Gênesis 25:2, descendente de Abraão? Zofar: o naamatita, habitante de Naama? Eliú: o buzita, Gênesis 22:20-21. Parente de Abraão? Observa também o nome Uz. Qual tipo de homem foi Jó? Veja Jó 1:1-5.
Autor do livro
Do jeito que o autor escreve sobre as conversas entre Jó e seus amigos indica que o autor foi uma testemunha ocular. Muitos acham que o autor foi Moisés. Mas isso é improvável por causa da razão falada acima. Faz mais sentido que Jó mesmo é o autor do livro. Jó mesmo falou seu desejo que passou na vida dele fosse escrito. Jó 19:23-24.
Propósito do livro
Há várias opiniões sobre este assunto, o propósito do livro. O propósito que faz mais sentido é: o mistério do sofrimento. Jó sofreu, isso é óbvio. Mas, para Jó, o seu sofrimento era um mistério. Ele não soube a conversa entre Deus e Jó que provocou seu sofrimento. Deus não revelou a ele o propósito do seu sofrimento nem quando estava no meio dele. Se Jó é o autor do livro, ele não soube nada disso até o fim da vida dele. Muita coisa passa na vida do crente sem saber o que Deus faz. Temos que seguir e agüentar pela fé. Se soubesse, não seria fé. Também nós os crentes temos que entender que Deus é soberano e não a nós explicações. Deus tem direito soberano para fazer conforme a Sua vontade!
Também neste livro vemos outros propósitos secundários. Por exemplo: a necessidade de uma revelação, 31:35. Sem uma revelação inspirada por Deus não há como conhecer o mistério da vida. Outro exemplo: mostrar a necessidade de árbitro, mediador, redentor, que nos leva a Deus e nos dá o entendimento e a revelação que é a verdade. 9:33, 19:25-27, 23:3-9. A revelação divina nos dá a verdade e certeza sobre estas coisas. Outro exemplo é a criação. Observe algumas coisas faladas no livro de Jó. A queda e a maldição do homem. Jó 5:7, 10:9, 14:1-4, 25:4, 31:33, 34:14-15. Estes versículos combinam com Gênesis 3:16-19. O Dilúvio. Jó 9:5-8, 12:14-15, 14:11-12, 22:15-17, 26:11-14, 38:8-11. A criação das estrelas as hostes do céu. Jó 9:8-9, 26:13, 38:4, 12-14. A criação de animais, aves e peixes. Jó 12:7-10, 38:39-41, 39: 1-30, 40:124, 41:1-34. Observe as criaturas de Deus mencionadas neste livro. Alimárias, aves, peixes, leão, corvo, cabra montesa, cerva, jumento montês, boi selvagem (unicórnio), avestruz, cavalo, gavião, águia, coelho, beemote e leviatã. Beemote e Leviatã são dinossauros.
O livro de Jó é uma drama
É a maior drama do Velho Testamento. Não é simplesmente um relatório dos eventos da vida de Jó. Ninguém que está no estado mental e emocional de que Jó estava neste livro, esperaria paciente e cortesmente para cada homem falar e depois responder cada um deles de sua vez em forma poética, fazendo isso três vezes. Então pela inspiração de Deus o livro de Jó foi escrito desta forma poética para que possamos entender melhor o que o livro ensina.
O esboço do livro de Jó.
Prólogo – Capítulos 1-2.
1. Jó – sua piedade na prosperidade. 1:1-5.
2. Satanás – sua mentira e maldade. 1:6-19.
3. Jó – sua piedade na adversidade. 1:20-22.
4. Satanás – sua maldade posterior. 2:1-8.
5. Jó – sua piedade ma miséria. 2:9-13.
Diálogo – Capítulos 3:1-42:6.
1. Primeiro Grupo de Discursos.
Elifaz versus Jó. 4-7.
Bildade versus Jó. 8-10.
Zofar versus Jó. 11-14.
2. Segundo Grupo de Discursos.
Elifaz versus Jó. 15-17.
Bildade versus Jó. 18-19.
Zofar versus Jó. 20-21.
3. Terceiro Grupo de Discursos.
Elifaz versus Jó. 22-24.
Bildade versus Jó. 25-31.
Eliú fala. 32-37.
4. Deus fala: Intervenção Final. 38-41.
Epílogo – Capítulo 42.
1. Jó – se julga. 42:1-6.
2. Jó – sua integridade provada. 42:7
3. Amigos de Jó – sua perversidade censurada. 42:8.
4. Jó – fim de seu cativeiro. 42:10.
5. Jó e sua família – sua reintegração na sociedade. 42:11.
6. Jó – sua prosperidade final. 42:12-17.
O livro explicado abreviadamente.
Prólogo – Capítulos 1-2.
1. Capítulo 1:1-5. Jó e sua família.
Diz que era homem íntegro, reto, temente a Deus e desviava-se do mal. Foi um bom pai e marido. Ofereceu sacrifícios ao Senhor por se mesmo e pela família fiel e continuamente. Jó teve sete filhos e três filhas. Ele foi muito abençoado por Deus e seus filhos também. Foi uma família unida e que viveu em paz. Jó era maior do que todos os homens do oriente.
2. Capítulo 1:6-12. O encontro de Satanás e Deus.
O encontro de Satanás e Deus, descrito nestes versículos, é certamente, à primeira vista, uma das partes mais estranhas da Bíblia. Temos que lembrar que qualquer conhecimento que os homens têm do reino invisível só pode ser obtido pelo meio de revelação sobrenatural. Então ou é revelado divinamente neste livro a nós, ou não passa de pura invenção do escritor. Se foi por revelação divina, a conversa entre Deus e Satanás realmente aconteceu. Se, pelo contrário, é a pura invenção do escritor, o livro todo perde o seu sentido. Isso também cria dúvida sobre a Bíblia toda. Com certeza Jó relatou o que de verdade aconteceu, apesar do fato que parece para nós um pouco esquisito.
Esta passagem revela que em ocasiões estipuladas por Deus, Satanás tem que se apresentar perante Deus. (1:6, 2:1). Os anjos eleitos e caídos têm que fazer reportagem (prestar contas) a Deus sobre as suas atividades. Deus é seu soberano e eles são responsáveis a Ele. (1:7, 2:2). As atividades de Satanás são limitadas à terra. Satanás não tem trabalho no céu, somente entra lá para fazer reportagem. Deus obriga Satanás fazer, Satanás não aparece por curiosidade, nem audácia, mas por obrigação.
Deus elogiou o seu servo Jó por causa da sua fidelidade e perguntou Satanás o que pensava dele. Deus iniciou esta conversa, porque sabia já que ia fazer. Também observe que Deus conhece a vida de cada um dos seus servos.
Satanás acusou Jó, ele acusa os santos do Senhor. (1:8-11, 2:3-5). Veja Apocalipse 12:10. Zacarias 3:1-2. Lucas 22:31-32. Satanás tem uma grande parte na maldade que acontece no mundo. Satanás não é onipresente, mas tem milhares de demônios para fazer o seu mal. Porque Satanás disse que estava rodeando a terra, e passeando por ela. Veja também que não devemos subestimar o Diabo, porque ele tem o poder para fazer o que está escrito aqui. Nem devemos superestimar o Diabo, porque ele está controlado pelo Senhor Todo-Poderoso.
O homem servirá o Senhor na pobreza tanto quanto na prosperidade? (1:9-11). Satanás disse que Jó serviu o Senhor porque estava cercado pela proteção divina e não podia tocar nele. Satanás só pode afligir os santos com a permissão de Deus. Graças a Deus por isso. Satanás afirmou que se deixar tocar em tudo quanto que Jó teve, que ele blasfemava Deus na sua face. Deus deu a sua permissão para tocar em tudo quanto que Jó teve, só não contra Jó mesmo (sua pessoa ou vida). Satanás saiu correndo para fazer a sua maldade. Note que Jó não sofreu por causa de uma coisa que fez. (2:3).
3. Capítulo 1:13-19. O primeiro assalto de Satanás.
Satanás não perdeu tempo para tentar provar a sua teoria. Satanás nem teve pena, mas fez ao máximo que Deus permitiu. O primeiro mensageiro veio dizer a Jó que os sabeus tomaram os bois e as jumentas e mataram todos os servos. O segundo mensageiro veio dizer a Jó que o fogo de Deus saiu do céu e queimou as ovelhas e mataram todos os servos. O terceiro mensageiro veio dizer a Jó que os caldeus tomaram os camelos e mataram todos os servos. O quarto mensageiro veio dizer a Jó que o vento fez a casa cair em cima dos seus filhos e todos morreram.
Pode imaginar o choque que Jó levou? Ele soube nada sobre a conversa entre Satanás e Deus. Não foi explicado nada para ele porque estava acontecendo tudo isso. Deus permitiu tudo isso acontecer sem explicar nada para Jó. A vida não é assim? Muitas vezes acontece na vida coisas que não temos nenhuma explicação. Temos que confiar no Senhor nesta hora, como Jó.
4. Capítulo 1:20-21. A reação de Jó.
Jó rasgou a sua roupa e rapou a sua cabeça como sinais da sua lamentação, pranto, angústia e tristeza, como foi o costume daquela época. O sofrimento foi real e duro, como vem na vida de qualquer um dos servos de Deus. Mas, note o resto que Jó fez nesta hora, adorou a Deus. Jó louvou o Senhor Deus nesta hora difícil com fé e confiança. Também note a integridade e sinceridade dele no v. 21.
5. Capítulo 1:22. A fidelidade de Jó.
Deus permitiu Satanás abusar Jó para provar que o servo verdadeiro de Deus não serve o Senhor pelas coisas que Deus dá a ele. Jó não pecou contra Deus, nem acusou Deus de fazer errado. Satanás perdeu.
6. Capítulo 2:1-6. O segundo encontro de Satanás e Deus.
De novo Satanás se apresenta no céu para prestar contas a Deus. Deus levantou o assunto de Jó novamente e elogiou a sua fidelidade e perguntou Satanás que pensava dele. Satanás ainda ficou insistindo que Jó servia o Senhor por causa das bênçãos. Satanás pediu permissão a Deus para tirar a sua saúde e Deus deu. Mas Deus deu a permissão para tocar na saúde de Jó com limite, não podia tomar a vida dele.
7. Capítulo 2:7-8. O o segundo assalto de Satanás.
Satanás feriu Jó com úlceras malignas na pele no corpo todo. Jó tomou um caco para se raspar com ele. Isso quer dizer para raspar a infecção que estava saindo das úlceras. Jó se assentou no meio da cinza (sinal de tristeza e lamentação), mas ainda sem pecar nem atribuir a Deus falta alguma. Jó não blasfemou Deus como Satanás disse que ia fazer. Há crente sincero e fiel a Deus apesar de tudo que vem na vida. Satanás ainda está perdendo.
8. Capítulo 2:9-10. A esposa de Jó.
A esposa de Jó ainda estava viva e agora ele fala com seu marido. Seria bem melhor se ela não tivesse falado nada. As vezes quando o crente está no sofrimento o seu amigo fala a pior besteira possível. Ela sugeriu a Jó para amaldiçoar Deus e morrer. Note a diferença na integridade dos dois. Jó ficou firme na sua integridade e chamou a sua esposa de doida. Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios. Que bom! A tentação nessa hora assim é abrir a boca e dizer muita coisa que não devemos. Observe a grande verdade que Jó falou no v. 10: “Receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” Confiar em Deus sempre é a coisa certa, Ele sabe que faz quando nós não sabemos!
9. Capítulo 2:11-13. A chegada dos três de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar.
Note que a sua dor era muito grande. Devemos ter muito cuidado em desprezar e fazer aparecer pouco a dor que os outros têm, quando não sabemos o que passa na vida deles. É melhor tentar mostrar simpatia, compaixão e amor, não desinteresse.
Diálogo: Os Três Discursos – Capítulos 3-41.
1. Capítulo 3. Jó fala primeiramente.
Observe a lamentação de Jó. Lamentou porque nasceu, v. 1-10. Lamentou porque não morreu desde a madre, v. 11-15. Lamentou porque não houve um aborto, v. 16-19. Lamentou porque não podia morrer naquele momento, v. 20-26. Jó estava deprimido profundamente. Jó falou de morte como sendo um alívio, está dormindo, está sossegado, com conselheiros, como bebês não nascidos, sem problemas por causa dos ímpios e da opressão dos malignos. Jó quis uma morte rápida, mas não suicídio. Já ficou também deprimido assim por causa dos problemas de vida? Já quis morrer?
2. Capítulos 4-5, 15, 22. Elifaz versus Jó.
Observe que Elifaz é o homem que falou muito sobre “ver” as coisas especiais, 4:8, 5:3, 5:27. Falou também “uma visão secreta”, 4:12-16. Também a sabedoria dos seus predecessores temanitas, 15:17-18. Em suma, podemos dizer que Elifaz baseou o seu argumento na “experiência”. Elifaz seria talvez agora hoje em dia um pentecostal.
Veja a análise de Elifaz. Os seus conceitos podem ser resumidos como segue. 1 - Apóia sua filosofia de vida especialmente nas próprias observações e experiências, 4:8, 12, 5:3. 2 - Está preso a uma teoria fixa e defeituosa, 5:3-7, 5:12-16, 15:20-35. 3 – Esta teoria fixa e rígida está expressa de modo especial em 4:7. 4 – Este ponto de vista, como aplicado a Jó, encontra seu foco em 5:17. A conclusão de Elifaz? Jó sofre por ter pecado.
3. Capítulos 8, 18, 25. Bildade versus Jó.
Veja agora as palavras de Bildade. Ele não tem o mesmo aspecto de cortesia de Elifaz. Bildade é um declamador direto e não um argumentador reflexivo. Sua fala é bem mais severa que a de Elifaz.
Ao contrário de Elifaz, que apóia sua filosofia de vida sobre a observação e a experiência, Bildade baseia-se na tradição. Veja 8:8-10, 18:5-20. Seus discursos parecem ser apenas uma lista de máximas e provérbios extraídos da sabedoria de todos do Oriente. Em Bildade, portanto, temos a voz da “tradição”. Ele seria talvez hoje em dia um católico.
Veja a análise de Bildade. 1 – Sua perspectiva de vida é caracterizada e limitada pela tradição, 8:8, 18:15-20. 2 – Está preso a uma idéia muito rígida da providência, 8:11-19, 18:5. 3 – Essa teoria limitada encontra expressão em 8:20. 4 – Essa teoria, aplicada a Jó, tem seu foco em 8:6. A conclusão de Bildade? Jó é um hipócrita.
4. Capítulos 11 e 20. Zofar versus Jó.
O que dizer agora Zofar? Zofar é menos delicado e mais drástico do que Elifaz e Bildade. As primeiras palavras de Zofar indicam que ele já se sente irritado, 11:2-3. Zofar contenta-se com uma simples suposição. Existe pelo menos uma dedução racional em Elifaz e ortodoxia em Bildade, mas Zofar presume e expõe com uma firmeza que tornaria pecado até mesmo a ousadia de Jó de divergir. Ele é um dogmatista puro. Ele fala “sabe, pois” e “tu sabes” em 11:6 e 20:4. Ele seria tavez hoje em dia um sabichão e uma mente fechada.
Veja a análise de Zofar. 1 – É um dogmatista religioso, 11:6, 20:4. 2 – Do mesmo modo que Elifaz e Bildade, é mentalmente limitado por uma idéia excessivamente rígida da providência, 11:13-20, 20:5. 3 – Seu dogmatismo limitado encontra expressão em 20:5. 4 – A teoria, quando aplicada a Jó, está em 11:6. A conclusão de Zofar? Deus exigiu de Jó menos do que mereceu a iniqüidade dele.
5. Os três amigos comparados e contrastados.
Elifaz apóia sua opinião das coisas na observação. Bildade apóia sua opinião das coisas na tradição. Zofar apóia sua opinião das coisas na suposição. Elifaz é o moralista religioso, Bildade é o legalista religioso e Zofar é o dogmatista religioso. Elifaz defende a hipotética idéia de que se Jó não fosse pecador, sua dificuldade não teria surgido. Bildade adota a posição de que Jó deve ser pecador, uma vez que a dificuldade realmente veio. Zofar começa com a suposição de que Jó é pecador e merece sua aflição. Todos três defendem uma teoria fixa de vida que é: 1 – Sofrimento sempre é o resultado direto do pecado, 2 – Estão tão certos de que seu ponto de vista está correto que consideram a resistência a ele como resistência a Deus, 3 – A bondade e a perversidade são sempre recompensadas e punidas nesta vida, 4 - Todos condenam Jó. Nenhum deles consegue dar uma resposta real ou convincente a Jó. Veja 32:3, 5, 11, 12.
6. Capítulos 6-7, 9-10, 12-14, 16-17, 19, 21, 23-24, 26-31. Jó contra os três.
No que se refere à mera argumentação, Jó sem dúvida é o melhor. É certo que ele dá espaço, aqui e ali, a pronunciamentos são precipitados, mas isso é simplesmente extraído dele em momentos de terrível tensão, quando, além de seu já extremo sofrimento mental e físico, foi levado à ira pela injustiça obstinada e pela verdadeira falta de solidariedade por parte dos três que se diziam solidários. Jó estava sofrendo demais para querer somente ganhar uma discussão.
Faça uma revisão das palavras dos três amigos. Os três se uniram na opinião de que Deus sempre faz prosperar os retos e castiga os perversos. Jó respondeu que sua própria experiência prova que as palavras deles são sem fundamento, pois ele é reto e ainda está afligido. A verdade é que não só o perverso sofre, o justo também sofre. Nem o perverso sofre sempre, muitos parecem escapar do sofrimento no mundo. A prosperidade do perverso não é sempre curta, pois muitas vezes continua até a morte e estende-se aos filhos que ficam.
A discussão se esgota assim num verdadeiro impasse. Deus, mais tarde, dá o seu veredicto a favor de Jó e censura os amigos de Jó.
7. Capítulos 32-37. Eliú fala.
O último versículo de capítulo 31 marca uma interrupção importante: “Acabaram-se as palavras de Jó”. Um homem bem mais jovem que os outros (32:6) agora fala. Até agora ele ficou só ouvindo, dando respeito aos mais velhos (32:4, 6-7). O discurso de Eliú era mais cortês de todos os outros e sem dúvida superou os outros em seu discernimento espiritual. Em relação ao problema em questão, o mais importante é que são introduzidos três fatores novos. Eliú deu uma nova abordgem, uma nova resposta e um novo apelo.
A Nova Abordagem. Jó queria um mediador, quem podia atuar entre ele e Deus (9:33). Eliú disse que era ele que podia servir nesta capacidade (33:6). De qual maneira falou isso? Elifaz, Bildade e Zofar quiseram servir de juízes; enquanto Eliú quis ser irmão e amigo.
A Nova Resposta. Observe o pensamento de Jó. Eliú disse que Deus é maior do que o homem, e por isso não tem direito nem autoridade para exigir uma explicação dEle (33:12-13). Algumas coisas que Deus faz necessariamente têm que ser incompreensíveis para o homem. O que faltava era um intérprete, e parece claro que Eliú se considerou a pessoa adequada para isso (33:29-33). Eliú julgou que o sofrimento de Jó era instrutivo (capítulo 33). Sem dúvida, Eliú atingiu um nível mais alto do que os outros três. Nos capítulos 36-37 Eliú chega ao desenvolvimento final de sua resposta. O que faz a resposta de Eliú inédita e distinta? Eliú viu no sofrimento um propósito diferente e superior àquele observado por Elifaz, Bildade e Zofar. O sofrimento não é só punitivo, mas é também corretivo. Não é só penal, é também moral. Não é só para castigar, mas é também para restaurar. Não é sempre para punir, mas é também para purificar. Não é só a vara do juiz, mas é também o cajado do pastor. 33:16-18, 19-20, 23-28, 34:10, 17-19, 21-23, 24, 27, 31-32, 33, 35:13-14, 36:5-12, 15-16, 18-21, 37:11-13.
O Apelo Novo. O apelo de Elifaz, Bildade e Zofar é: “Admita o fato que pecou e deixe de ser hipócrita”. Elifaz, Bildade e Zofar insistiram em falar sobre um suposto comportamento pecaminoso do passado. Eliú preocupa-se com uma postura errada do presente. Portanto, de acordo com esta opinião, o sofrimento de Jó é corretivo e educativo em lugar de judicial e punitivo e seu apelo é para que Jó se humilhe, aceitando o ensinamento. Segundo Eliú, essa foi a principal falha de Jó.
O que dizer da fala de Eliú como um todo? A sua fala alcança um nível superior aos outros. Eliú tem uma compreensão espiritual mais ampla e uma percepção espiritual mais verdadeira. Mas, também Eliú comete alguns erros e é também insatisfatório. Ele diz que uma reação sincera à aflição sempre traz de volta a restituição da prosperidade (33:23-30). A filosofia de Eliú não abrange certamente toda a questão; porque ele ignora certamente sua causa real, que é a calúnia de Satanás e o desafio do Senhor, da mesma forma dos outros também. Lógico porque a causa real do sofrimento de Jó Deus revelou a ninguém. Há coisa na vida do crente que só Deus mesmo pode responder. Nós nem devemos tentar. Tentar é só especular em vão.
8. Deus fala: Intervenção Final. 38-41.
Jó não respondeu a Eliú. O Senhor Deus respondeu em nome de Jó (38:1). De repente Deus falou de um redemoinho. Neste momento os cincos homens ficaram mudos e espantados enquanto a voz de Deus desce sobre eles. Deus censurou Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú. Quando vamos esperando encontrar alguns versículos que dê a Jó, finalmente e de uma vez por todas, a solução divina para seu problema, ficamos claramente desapontados. Não encontramos nenhuma palavra de Deus de explicar o sofrimento de Jó ou resolver a questão da providência provocada por essa angústia. Deus é soberano e faz com os homens da terra conforme a sua vontade perfeita. Nós somos as suas criaturas e temos que confiar na sua providência soberana e perfeita.
Deus nem faz uma discussão das coisas que aconteceram. Deus faz muitas perguntas a eles, e por elas Deus está mostrando, com ironia, que Ele é Deus e sabe que faz. Capítulos 38 e 39 são quase todos as perguntas que Deus faz a estes homens. A resposta é que o homem não sabe, mas Deus sabe sim, então devemos deixar com Ele as coisas encobertas aos homens.
Então, quais são as lições da Palavra de Deus nos capítulos 38-41. Primeiro; Jó não deveria conhecer a razão de seus sofrimentos. Se conhecesse o motivo do seu sofrimento, isso influenciaria a reação dele para tornar-se artificial. Não haveria teste verdadeiro de seu caráter. Não havia lugar para o exercício e o aperfeiçoamento genuíno da sua fé. Existem certas coisas sobre o sofrimento humano que Deus não pode explicar sem destruir o próprio objetivo que estão destinadas a cumprir. Segundo; mostra o interesse divino pelas coisas de Jó (também nós). Embora Deus não condescendesse em dar uma explicação, Ele evidenciou que estava observando, ouvindo e cuidando. É bom demais saber disso. Terceiro, o plano de Deus é levar Jó a apoiar-se no próprio Deus, independentemente de explicações. Se Jó pudesse ser levado para o ponto de confiar em Deus como um ser absolutamente justo e benevolente em oposição a todas as adversidades misteriosas, então, a acusação de Satanás seria revelada como sendo infundada e o diabo seria derrotado. Funcionou, porque Jó venceu pela fé no Seu bom Deus. Ter fé em Deus é confiar em Deus apesar de todas as aparentes contradições e mesmo não tendo nenhuma explicação no momento. A vitória de fé é apoiar-se em Deus com plena confiança (Jó 13:15). Então a fé foi confirmada.
Veja o que Jó falou quando ele ouviu o Senhor Deus falar (40:3-5). Sempre é assim quando o homem vê Deus em verdade.
Epílogo – Capítulo 42.
1. Jó – se julga, é vindicado e honrado por Deus . 42.
Veja o homem Jó sincero com Deus apesar de tudo. Ele perdeu toda a sua riqueza. Também perdeu todos os seus filhos. Depois disso, perdeu a saúde. Além de tudo isso, perdeu a amizade da sua esposa. Também perdeu a compaixão dos seus três amigos. Ele perdeu até o seu sentimento de dignidade. O resultado de tudo isso na vida de Jó é uma poderosa percepção da infinita sabedoria, autoridade, santidade e bondade de Deus (42:5-6).
Deus censurou os amigos de Jó e honrou Jó (v. 7). Deus mandou os amigos de Jó oferecer ao Senhor sete bezerros e sete carneiros. Porque Deus não estava agradado por eles. E o Senhor virou o cativeiro de Jó. Observe que Deus fez isso quando orava pelos seus amigos. É uma boa lição para nós. O Senhor abençoou o último estado de Jó, mais do que o primeiro. Deus é bom e fiel para com o seu povo. Devemos confiar nEle.