Tomás de Aquino (Roccasecca, 1225 – Fossanova, 7 de março de 1274), foi um frade católico da Ordem dos Pregadores (dominicano) italiano cujas obras tiveram enorme influência na Teologia e na filosofia, principalmente na tradição conhecida como Escolástica, e que, por isso, é conhecido como “Doctor Angelicus”, “Doctor Communis” e “Doctor Universalis”. “Aquino” é uma referência ao condado de Aquino, uma região que foi propriedade de sua família até 1137.
Ele foi o mais importante proponente clássico da Teologia natural e o pai do tomismo. Sua influência no pensamento ocidental é considerável e muito da filosofia moderna foi concebida como desenvolvimento ou oposição de suas ideias, particularmente na ética, lei natural, metafísica e teoria política. Ao contrário de muitas correntes da Igreja na época, Tomás abraçou as idéias de Aristóteles – a quem ele se referia como “o Filósofo” – e tentou sintetizar a filosofia aristotélica com os princípios do cristianismo. As obras mais conhecidas de Tomás são a “Suma Teológica” (em latim: Summa Theologiae) e a “Suma contra os Gentios” (Summa contra Gentiles). Seus comentários sobre as Escrituras e sobre Aristóteles também são parte importante de seu “corpus” literário. Além disso, Tomás se distingue por seus hinos eucarísticos, que ainda hoje fazem parte da liturgia da Igreja.
Tomás é venerado como santo pela Igreja Católica e é tido como o professor modelo para os que estudam para o sacerdócio por ter atingido a expressão máxima tanto da razão natural quanto da Teologiaespeculativa. O estudo de suas obras há muito tempo tem sido o cerne do programa de estudos obrigatórios para os que buscam as ordens sagradas (como padres e diáconos) e também para os que se dedicam à formação religiosa em disciplinas como filosofia católica, teologia, história, liturgia e direito canônico. Tomás foi também proclamado Doutor da Igreja por Pio V em 1568. Sobre ele, declarou Bento XV:
“Esta ordem (dominicana) […] ganhou novo lustre quando a Igreja declarou os ensinamentos de Tomás como seus próprios e este Doutor, honrado por elogios especiais dos pontífices, o mestre e patrono das escolas católicas”.
Tomás nasceu em Roccasecca, no condado de Aquino do Reino da Sicília (atualmente na região do Lácio, na Itália) por volta de 1225. De acordo com alguns autores, nasceu no castelo de seu pai, Landulfo de Aquino, que não pertencia ao ramo mais poderoso de sua família e era apenas um miles (“cavaleiro”). Já a mãe de Tomás, Teodora, era do ramo Rossi da família napolitana dos Caracciolo. Enquanto o resto da família dedicou-se à carreira militar, seus pais pretendiam que Tomás seguisse o exemplo do irmão de Landulfo, Sinibaldo, que era abade do mosteiro beneditino de Monte Cassino, uma carreira perfeitamente normal para o filho mais jovem de uma família nobre do sul da Itália da época. Aos cinco anos de idade, começou a estudar em Monte Cassino, mas, depois que o conflito militar entre o imperador Frederico II e o papa Gregório IX chegou à abadia no início de 1239, Landulfo e Teodora matricularam o pequeno Tomás no “studium generale” (a universidade em Nápoles), recém-criada por Frederico em Nápoles. Foi provavelmente lá que Tomás foi introduzido aos estudos de Aristóteles, Averróis e Maimônides, importantes influências para sua filosofia teológica. Seu professor de aritmética, geometria, astronomia e música era Pedro da Ibérnia. Foi também durante seus estudos em Nápoles que acabou sob a influência de João de São Juliano, um pregador dominicano que era parte do grande esforço empreendido pela Ordem dos Pregadores para recrutar seguidores. Finalmente, aos dezenove, Tomás resolveu se juntar à ordem, o que não agradou sua família. Numa tentativa de impedir que Teodora influenciasse a escolha de Tomás, os dominicanos arranjaram para que ele se mudasse para Roma e, de lá, para Paris. Porém, durante a viagem para Roma, seguindo as instruções de Teodora, seus irmãos o capturaram quando ele bebia num riacho e o levaram de volta para seus pais no castelo de Monte San Giovanni Campano. Ficou preso por cerca de um ano nos castelos da família em Monte San Giovanni e Roccasecca, numa tentativa de fazê-lo mudar de idéia. Preocupações políticas impediram que o papa interviesse em defesa de Tomás, aumentando significativamente o tempo que ficou preso. Durante este período de provações, Tomás ensinou suas irmãs e escreveu para seus irmãos dominicanos. Desesperados com a teimosia de Tomás, dois de seus irmãos chegaram a ponto de contratarem uma prostituta para seduzi-lo. De acordo com a lenda, Tomás a expulsou com um ferro em brasa e, durante a noite, dois anjos apareceram para ele enquanto ele dormia para fortalecer sua determinação de permanecer celibatárias (Hampden, The Life, p. 25) – questionáveis as experiências pessoais de cada um – não levemos como importante para a vida cristã de cada membro do corpo de Cristo; este é um dos males da Igreja contemporânea, substituir a Escritura –, as doutrinas divinas, por experiências, muitas vezes falsas, mas até mesmo verdadeiras de outras pessoas não servem como doutrina (cf. 2 Coríntios 12:1) “não devemos nos gloriar”, note que Paulo usa outra pessoa para descrever a sua própria experiência, “conheço um homem”, as experiências têm o seu lugar na vida da Igreja, mas devemos ter o cuidado de examinar uma após outra, e a vida daqueles que afirmam ter tais experiências com o testemunho das escrituras, muitas seitas foram aparecendo pelas “experiências” de seus fundadores (cf. 2 Coríntios 11:14, 15), devemos ficar seguros e firmados na Palavra de Deus (João 5:39).
Em 1244, percebendo que todas suas tentativas de dissuadir Tomás fracassaram, Teodora tentou salvar a dignidade da família e arranjou para ele escapasse durante uma noite pela janela. Ela acreditava que uma fuga secreta da prisão era menos prejudicial que uma rendição aberta aos dominicanos. Tomás seguiu primeiro para Nápoles e, depois, para Roma, onde se encontrou com João de Wildeshausen, o mestre-geral da Ordem dos Pregadores.
Tomás via a Teologia (a “doutrina sagrada”) como uma ciência cuja matéria-prima era as Escrituras e a tradição da Igreja Católica. Estas fontes, por sua vez, seriam, segundo ele, produtos da autorrevelação de Deus a indivíduos ou grupos de indivíduos através da história. Finalmente, fé e razão, distintas e relacionadas, seriam as duas ferramentas primárias para processar os dados teológicos. Ele acreditava que ambas eram necessárias ou, melhor, que a “confluência” de ambas era necessária – para obter-se o verdadeiro conhecimento de Deus. O objetivo final da Teologia, para Tomás, era utilizar a razão para perceber a verdade sobre Deus e experimentar a salvação através desta verdade.
1 – Revelação.
Aquino acreditava que a verdade é conhecida pela razão (“revelação natural”) e pela fé (“revelação sobrenatural”). Esta tem sua origem na inspiração pelo Espírito Santo e está disponível através do ensinamento dos profetas, reunidos nas Escrituras e transmitidos pelo “magisterium”, coletivamente chamado de “tradição”. Já a revelação natural é a verdade disponível a todos através da natureza humana e dos poderes da razão, por exemplo, aplicando métodos racionais para perceber a existência de Deus. Assim, apesar de se poder deduzir a existência e os atributos de Deus através da razão, certas especificidades só podem ser conhecidas através da revelação especial de Deus em Jesus Cristo. Os principais componentes teológicos do cristianismo, como a Trindade e a Encarnação, são revelados nos ensinamentos da Igreja e nas Escrituras; não podem, portanto, ser deduzidos pela razão humana.
2 – Criação.
Como católico Aquino acreditava que Deus é o “criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”; como Aristóteles, defendia que a vida poderia se formar a partir de matéria não viva ou de plantas, uma forma de abiogênese conhecida como “geração espontânea”: — “Como a geração de uma coisa é a corrupção de outra, não é incompatível com a primeira a formação de coisas; que, da corrupção do menos perfeito, o mais perfeito deva ser gerado. Assim, animais gerados da corrupção de coisas inanimadas ou de plantas possam então ser gerados”— Suma Teológica, Tomás de Aquino.
Além disso, Tomás defendia – em seu comentário sobre a “Física”, de Aristóteles – a teoria de “Empédocles” de que várias mutações das espécies emergiram ainda durante a Criação. Ele argumenta que estas espécies foram geradas através de mutações no esperma animal de forma não esperada pela natureza. Para estas espécies, simplesmente não havia intenção de que tivessem existência perpétua: —“O mesmo vale para aquelas substâncias que Empédocles afirma terem sido produzidas no começo do mundo, como a “descendência do touro”, ou seja, meio-homem e meio-touros. Pois se tais coisas não conseguiram encontrar algum objetivo e um estado natural final para que pudessem ter sua existência preservada, não foi por que a natureza assim não quis (um estado final), mas por que eles não conseguiram ser preservados. Pois não foram gerados de acordo com a natureza, mas pela corrupção de algum princípio natural, como ainda hoje ocorre quando filhos monstruosos são gerados pela corrupção da semente” — Comentário sobre a Física, Tomás de Aquino.
Santo Agostinho concordava fortemente com o senso comum de sua época, de que os cristãos deveriam ser pacifistas filosoficamente, mas que deviam utilizar a força como meio de preservar a paz no longo prazo. Ele argumentou muitas vezes que o pacifismo não era contrário à defesa dos inocentes ou à autodefesa, por exemplo. Resumidamente, Agostinho acreditava que, para a preservação da paz no longo prazo, o uso justificado da força poderia ser necessário, mas estabelecia limites para isso, exigindo, por exemplo, que as guerras com esta finalidade deveriam ser defensivas e ter a restauração da paz (e não a conquista de vantagens) como objetivo.
Aquino, séculos depois, aproveitou-se da autoridade dos argumentos de Agostinho quando tentou definir as condições para que uma guerra fosse considerada justa, resumidos na “Suma” (Justo L. Gonzalez (1984). The Story of Christianity. [S.l.]: Harper San Francisco):
[1] – Primeiro, a guerra deve ocorrer por uma causa boa e justa e nunca pela busca de riqueza ou poder. [2] – Segundo, a guerra justa deve ser declarada por uma autoridade legalmente instituída, como um estado. [3] – Terceiro, a paz deve ser a motivação central em meio à violência decorrente.
3 – Natureza de Deus.
Aquino acreditava que a existência de Deus era autoevidente, mas não era evidente para os homens. “Portanto, digo que esta proposição, “Deus existe”, em si mesma, é autoevidente, pois o predicado é o mesmo que o sujeito […]. Agora, como não conhecemos a essência de Deus, a proposição não é autoevidente para nós e precisa ser demonstrada por coisas que nos são mais conhecidas, apesar de menos conhecidas em sua própria natureza – nomeadamente, pelos efeitos”.
Ele acreditava também que se poderia demonstrar a existência de Deus. De forma breve na “Suma Teológica” e mais extensivamente na “Suma contra os Gentios”, Aquino considera em detalhes seus cinco argumentos para a existência de Deus, amplamente conhecidos como “quinque viae” — “cinco vias”:
[1] – Movimento: — algumas coisas indubitavelmente mudam sem serem capazes de provocar seu próprio movimento. Como, segundo o racional de Tomás, não pode haver uma cadeia infinita de causas para um movimento, decorre que deve existir um “Primeiro Movimentador”, não movido por nada anterior e este seria o que todos entendem como sendo Deus.
[2] – Causa: — como no caso do movimento, nada é causa de si próprio e uma cadeia causal infinita seria impossível, deve haver uma “Primeira Causa”, conhecida por Deus. Aquino neste caso baseia-se nas assertivas de Aristóteles sobre os princípios do ser. O conceito de Deus como prima causa (“causa primeira”) deriva do conceito aristotélico do “movedor imovível” (Nichols, Aidan (2002). Discovering Aquinas. Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company. p. 80 – 82).
[3] – Existência do necessário e do desnecessário: — nossa experiência inclui coisas que certamente existem, mas que são, aparentemente, desnecessárias. Porém, não é possível que tudo seja desnecessário, pois então, quando nada houver (que seja necessário), nada existiria. Portanto, somos compelidos a supor que existe algo que existe “necessariamente”, cuja necessidade deriva de si próprios; na realidade, ele próprio seria a necessidade para que tudo o mais existisse. Este seria Deus.
[4] – Gradação: — se podemos perceber uma gradação nas coisas no sentido de que algumas são mais quente, boa etc., deve haver um superlativo que é a coisa mais verdadeira e nobre e, portanto, a que “existe mais completamente”. Esta, então, seria Deus.
[5] – Tendências ordenadas da natureza: — uma direção para as ações em direção a uma finalidade se percebe em todos os corpos governados pela lei natural. As coisas sem consciência tendem a ser guiadas pelos que a tem. A isto, chamamos Deus (Summa of Theology I, q. 2, The Five Ways Philosophers Have Proven God’s Existence). Sobre a natureza de Deus, Aquino acreditava que a melhor abordagem, geralmente chamada de via negativa em latim, é considerar o que Deus “não é”. Seguindo assim, ele propôs cinco expressões sobre as qualidades divinas:
Deus é simples, sem composição de partes – como “corpo” e “alma” ou “matéria” e “forma”. Deus é perfeito, nada lhe-falta. Ou seja, Deus é diferente dos demais seres por sua completa realização. Tomás definiu Deus como “Ipse Actus Essendi subsistens” (“subsistente ato de ser”). Deus é infinito, ou seja, Deus não finito no sentido que os seres criados são físico, intelectual e emocionalmente limitado. Esta infinidade deve ser diferenciada da simples infinidade de tamanho ou número. Deus é imutável, não passível de mudanças de caráter ou essência. Deus é uno, sem diversificação em si próprio. A unidade de Deus é tal que sua essência é idêntica à sua existência. Nas palavras de Tomás, “em si mesma, a proposição “Deus existe” é necessariamente verdadeira, pois, nela, sujeito e predicado são o mesmo”.
4 – Natureza de Jesus.
Na “Suma Teológica”, Tomás começa sua discussão sobre Jesus Cristo relembrado a histórica bíblica de Adão e Eva e descrevendo os efeitos negativos do pecado original. A partir daí, ele desenvolve seu argumento de que o objetivo da Encarnação era restaurar a natureza humana, removendo a “contaminação pelo pecado”, algo que os humanos são incapazes de realizar por si mesmos. “A Sabedoria Divina julgou apropriado que Deus tornar-se-ia humano para que, assim, Este pudesse restaurar o homem e dar uma satisfação”. Tomás argumentou a favor da visão da satisfação da expiação, ou seja, que Jesus morreu “para dar satisfação por toda a raça humana, que foi sentenciada a morrer por causa do pecado”.
Aquino argumentou contra diversos teólogos que defendiam pontos de vista diferentes sobre Jesus. Em resposta a Plotino, afirmou que Jesus era verdadeiramente divino e não um simples ser humano. Contra Nestório, que sugeriu que o Filho de Deus estaria meramente conjuminado com o Cristo homem, defendeu que a completude de Deus era parte integral da existência de Cristo. Contra-atacou as visões de Apolinário defendendo que Cristo tinha uma alma verdadeiramente humana (racional, portanto) e a dualidade de naturezas de Cristo (a humana e a divina). Contra Eutiques, afirmou que esta dualidade permaneceu mesmo depois da Encarnação e, contra os ensinamentos de Maniqueu e Valentim, que as duas naturezas existiam simultaneamente e separadamente num único corpo humano real.
Resumindo, “Cristo tinha um “corpo real” da mesma natureza que o nosso, uma “verdadeira alma racional” e, além disso, a “divindade perfeita”: — “Respondo que, a pessoa ou hipóstase de Cristo pode ser vista de duas formas, primeiro, como ela por si mesma e, assim, de todo simples, mesmo como a natureza do Verbo, segundo, no aspeto da pessoa ou hipóstase a quem ela subsiste através de uma natureza; e, assim, a Pessoa de Cristo subsiste em duas naturezas. Assim, embora haja um ser subsistindo nEle, há diferentes aspectos de subsistência presentes, motivo pelo qual diz que ele é uma pessoa composta, um ser subsistindo em dois”.
Ecoando Atanásio de Alexandria, Aquino afirmou que: — “O Unigênito Filho de Deus […] assumiu nossa natureza para que, feito homem, pudesse fazer dos homens deuses”.