quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A ideia de que todo crente é obrigado a dizimar 10% da sua renda para a obra do Senhor é largamente difundida nas Igrejas evangélicas de hoje. Já bem cedo na vida espiritual, praticamente todo crente é ensinado que tem que dizimar. Algumas Igrejas acreditam tão fortemente em dizimar que seus membros regularmente recitam o Credo do Dizimista – “O dízimo é do Senhor. Pela verdade, o aprendemos. Pela fé, o cremos. Pela alegria, o damos. O dízimo!”.

Outros muitos pregadores têm ensinado que qualquer crente que não entregue o dízimo para o trabalho do Senhor está roubando Deus e está sob maldição, de acordo com Malaquias 3:8 – 10, mas isso não é verdade, eles retiram do texto o seu sentido original; é uma forma de amedrontar os crentes incautos (ignorantes) em relação ao conhecimento bíblico.

Examinaremos o que a própria Bíblia ensina sobre o assunto do dízimo, sendo nosso propósito entendermos somente pela Bíblia qual a real relevância que o dízimo tem para os crentes no Senhor Jesus Cristo, vivendo sob o Novo Pacto. Faremos isto examinando o que a própria Bíblia tem a dizer sobre o dízimo: — [1] – Pacto Abraâmico (antes de a Lei ser dada), [2] – Pacto Mosaico (sob a Lei Mosaica – Malaquias 3), e [3] – No Novo Pacto em Cristo (nas Escrituras do Novo Testamento).

1 – Pacto Abraâmico (antes da Lei ser dada).

Existem duas passagens bíblicas que falam de um dízimo sendo dado antes que a Lei fosse instituída no Sinai (Pacto Mosaico). As passagens envolvem Abraão e Jacó, dois dos patriarcas de Israel.

Gênesis 14:17 – 20 diz, “E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: — Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo”.

Nesta passagem, é dito que Abrão deu um dízimo a Melquisedeque, presumivelmente como uma expressão de gratidão a Deus por capacitar-lhe e conceder-lhe resgatar seu sobrinho Ló, que tinha sido levado cativo. Aqueles que crêem que o dízimo é mandatório para os crentes do Novo Testamento argumentam que, uma vez que o dízimo foi praticado antes que a Lei Mosaica fosse dada, ele forçosamente também tem que ser praticado depois da Lei Mosaica, que tem sido feita obsoleta pelo estabelecimento do Novo Pacto, através do sacrifício de Cristo, Hebreus 8:13.

No entanto, antes que cheguemos a qualquer decisão dura e apressada, olhemos de mais perto o texto [acima] e façamos algumas observações pertinentes.

Não há nenhuma evidência neste texto de que dizimar foi ordenado por Deus. De fato, tudo no texto nos leva a crer que dar o dízimo foi, completamente, uma decisão, e livre escolha de Abrão. Como tal, foi completamente voluntária. Como veremos pouco depois em nosso artigo, o dízimo, na Lei, de modo algum era voluntário, mas sim obrigatório a todo o povo de Deus. Ademais, este é o único dízimo que as Escrituras mencionam que deu Abraão, e posteriormente, jamais retornou a dar [em toda a sua vida]. Não temos nenhuma evidência de que dizimar era sua prática geral (habitual, constante). Ainda mais, este dízimo proveio do despojo da vitória que Abraão adquiriu por poderio militar.

Como notaremos depois em nosso artigo, o dízimo exigido sob a Lei Mosaica era sobre o lucro da colheita, dos frutos e dos rebanhos, e para ser dado em uma base anual, não o despojo de uma vitória militar!

Outro texto é Gênesis 28:20 – 22, que diz, “E Jacó fez um voto, dizendo: — Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres certamente te darei o dízimo”.

Jacó, nesta passagem, está fazendo um voto em resposta a uma visitação que recebeu de Deus, em um sonho. Neste sonho, Jacó viu uma escada alcançando o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. No sonho, Deus estava de pé, acima da escada, e disse a Jacó “[…] Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; e eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado” (v. 13 – 15). Em resposta, Jacó fez o voto que, se Deus guardasse sua promessa, ele, por sua vez, daria a Deus um dízimo.

Novamente, em semelhança ao exemplo de Abraão, parece que este dízimo foi voluntário da parte de Jacó. Se ele de fato começou a dizimar [a Bíblia não o registra] depois que Deus cumpriu a promessa que lhe fez, Jacó ainda adiou o dizimar por 20 anos (até depois da volta a Canaã).

Sem falar, que este sonho de Jacó aponta muito mais para a salvação do homem, o Pacto Redentivo, a inauguração do Reino de Deus, do que propriamente o dizimar, compare João 1:51 com Gênesis 28:12, e note do que se tratava o sonho de Jacó, diz o texto — “E eis que era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela”. Esta “escada” era a figura de Cristo; o Evangelho –, a mensagem desse texto é de salvação prometida e cumprida em Cristo Jesus na cruz do Calvário, não o dízimo.

Estes dois são os únicos exemplos do dizimar que pode ser encontrado no Antigo Testamento antes da Lei ser dada. Ambos são exemplos de algo voluntário, e nenhum desses dois dizimaram a pedido de Deus. Em nenhum dos personagens (Abrão e Jacó, que deram estes dois dízimos), vemos um exemplo de dizimar como uma prática geral (habitual, constante, mensal) das suas vidas, como são exigidos das vidas dos crentes nas Igrejas.

De fato, na vida de Abrão, parece que temos um dízimo como algo que ele só deu uma única vez em sua vida, e foi (um dízimo) dos despojos de uma vitória militar, dado a um sacerdote de Deus. Se nossa única evidência para obrigar crentes sob o Novo Pacto a dizimarem se apoia nestas duas passagens de Gênesis, parece-me que estamos nos apoiando em um fundamento muitíssimo inseguro, e falso.

2 – Pacto Mosaico (sob a Lei Mosaica – Malaquias 3).

O que diz o texto de Malaquias 3:8 – 12? Estes versículos ensinam os seguintes princípios: — [1] – Israel (não a Igreja do Novo Pacto) estava negligenciando seu relacionamento de concerto com Deus por roubá-lo nos “dízimos e nas ofertas”. [2] – Sua negligência levou-lhe um julgamento retributivo. [3] – Deus desafiou a agir contra a sua negligência, provando sua fidelidade nesse assunto de dar.

Se ele desse “todos os dízimos”, Deus abriria “as janelas do céu” (mandaria as chuvas necessárias) e repreenderia “o devorador” (destruiria as locustas de devoravam a plantação). Note que esse texto nada tem haver com crentes que não dizimam sob o Novo Testamento, mas com o relacionamento negligente de Israel com Deus, quebrando assim, seu concerto.

3 – No Novo Pacto em Cristo (nas Escrituras do Novo Testamento).

Embora não haja nenhum consenso na Igreja contemporânea quanto à aplicabilidade dos princípios do Novo Testamento quanto ao dízimo, de fazer prova de Deus na área das finanças quanto a repreensão de Deus às coisas que devoram as finanças ou à provisão financeira de Deus àqueles que dão fielmente, há uma concordância geral de que o Novo Testamento nos ensina a dar substancialmente ao Senhor (cf. 2 Coríntios 9:7 – 9).

John Bunyan disse certa vez: — “Um santo nunca dizia, esta moeda é minha, e, quanto mais ele dadivava, mais ele tinha”. Muitos têm torcido 2 Coríntios 9:9 como se ensinasse que Deus quer que dadivemos tendo, dentro de nós mesmos, o objetivo de recebermos; este tipo de ensino apela para a carne, e faz crescer um espírito de avareza e cobiça nos crentes. Mas, ao contrário disto, Paulo nesta passagem está ensinando que devemos dadivar com o objetivo de recebermos mais para podermos dadivar ainda mais – e com o intento de que, o maior número de necessitados sejam alcançados e a obra de Deus seja sustentada para o louvor da glória da sua graça.
Há também concordância de que Ele é um Deus que se deleita em responder com graciosa provisão, especialmente para suprir necessidades especiais (cf. Mateus 6:25 – 34). Ele faz isso não como uma espécie de barganha, mas por ser bom e fiel, mesmo quando não somos fiéis, nem bons.

Acerca da maldição da lei, dita por “pastores”; se não devolverem o dízimo, eles bradam, vocês serão amaldiçoados, pois roubam a Deus. Já vimos que os textos de Malaquias falam acerca de Israel, e dos sacerdotes (cf. Malaquias 1:1; 2:1).  E como refutamos, acerca desta posição que eles dizem “maldição da Lei” imposta aos transgressores da Lei? Com o texto sagrado de Gálatas 3:13, que descreve a anulação (abolição) da maldição em Cristo para todos os cristãos. Diz o texto: — “Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: — Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro”. “O Filho Amado se fez maldito, para que os malditos fossem feitos filhos amados; Ele foi obediente em lugar dos desobedientes; Ele é fiel em lugar de infiéis”.

Através da sua morte na cruz, Cristo fez por nós o que não poderíamos fazer, de sermos fiéis em todos os seus caminhos; sua obra, e não a nossa, removeu de nós a “maldição” por causa da desobediência da Lei (v. 13), como o relato acima de Malaquias, onde todo Israel estava sendo desobediente; o Novo Testamento nos mostra que essa maldição foi anulada, abolida de uma só vez e definitivamente na cruz, e Cristo levou sobre si toda a ira de Deus, que seria destinada a nós – Igreja.