PURITANISMO
Seminário de Teologia
Professor: Jorge Oliveira
Puritanos e
Assembléia de Westminster
OS PURITANOS: SUA
ORIGEM E SUA HISTÓRIA
Introdução
Ênfase principal:
preocupação com a pureza e integridade da igreja, do indivíduo e da sociedade.
Movimento muito
influente na Inglaterra; principal tradição religiosa na história dos Estados
Unidos.
1. Definições
Movimento em prol da
reforma completa da Igreja da Inglaterra que teve início no reinado de
Elizabete I (1558) e continuou por mais de um século como uma grande força
religiosa na Inglaterra e também nos Estados Unidos. "Uma versão militante
da fé reformada" (Dewey D. Wallace, Jr.).
Movimento religioso
protestante dos séculos 16 e 17 que buscou "purificar" a Igreja da
Inglaterra em linhas mais reformadas. O movimento foi calvinista quanto à
teologia e presbiteriano ou congregacional quanto ao governo eclesiástico
(Donald K. McKim).
Pessoas preocupadas
com a reforma mais plena da Igreja da Inglaterra na época de Elizabete e dos
Stuarts em virtude de sua experiência religiosa particular e do seu compromisso
com a teologia reformada (I. Breward).
2. Antecedentes
(raízes)
O puritanismo é uma
mentalidade ou atitude religiosa que começou cedo na história da Inglaterra.
Desde o século 14,
surgiu uma tradição de profundo apreço pelas Escrituras e questionamento de
dogmas e práticas da igreja medieval com base nas mesmas.
Começou com o
"pré-reformador" João Wycliffe e os seus seguidores, os lolardos.
Publicação da primeira Bíblia Inglesa completa em 1384, na época do
"Grande Cisma".
Wycliffe afirmou a
autoridade suprema das Escrituras, definiu a igreja verdadeira como o conjunto
dos eleitos, questionou o papado e a transubstanciação.
O protestantismo
inglês sofreu a influência de Lutero e especialmente da teologia reformada
continental, a Reforma Suíça de Zurique (Zuínglio, Bullinger) e Genebra
(Calvino, Beza).
Começou com o
trabalho teológico da primeira geração de reformadores ingleses, influenciados
pela Reforma Suíça. Ênfases: colocação da verdade antes da tradição e da
autoridade; insistência na liberdade de servir a Deus da maneira que se julgava
mais acertada (ver Lloyd-Jones, O puritanismo e suas origens)
William Tyndale
(†1536) - compromisso com as Escrituras, ênfase na teologia do pacto. Tradutor
da Bíblia - NT (1525); cruelmente perseguido; estrangulado e queimado em
Antuérpia, na Bélgica.
John Hooper (†1555)
- as Escrituras devem regular a estrutura eclesiástica e o comportamento
pessoal.
John Knox (†1572) -
reforma completa da igreja e do estado.
Quais as pricipais
caracteristicas do puritanismo?
A saber:
a) A doutrina da
graça, "desde a salvação até a prosperidade material";
b) a conversão ou
regeneração pessoal, que incluía redenção e santificação pessoal
c) o conceito de
pacto, que explicava o tratamento de Deus para com a pessoa individualmente e
era a base filosófica, no puritanismo, para instituições como família, igreja e
Estado;
d) a Bíblia como
autoridade única de fé e prática;
e) uma doutrina da
criação bem desenvolvida que "levou logicamente ao repúdio da velha
dicotomia entre sagrado e profano";a doutrina da providência de Deus em
tudo e a conseqüente doutrina da vocação ou chamado de Deus.
f) a visão puritana
tríplice da "pessoa", : boa, porque criada por Deus, pecaminosa,
"em virtude do pecado original de Adão imputado a ela... e capaz de
redenção e glorificação pela renovadora graça de Deus".
3. História
(a) Henrique VIII
(1509-1547) - criou a Igreja Anglicana, uma igreja nacional inglesa de
orientação nitidamente católica. Em 1539, impôs os Seis Artigos, com severas
punições para os transgressores ("o açoite sangrento de seis
cordas"). Incluíam a transubstanciação, a comunhão em uma só espécie, o
celibato clerical, votos de castidade para leigos, missas particulares,
confissão auricular, etc.
Duas reações dos
protestantes: conformação - por exemplo, o arcebispo Thomas Cranmer a princípio
de opôs, mas depois se submeteu e separou-se da esposa; protesto - Miles
Coverdale, John Hooper e outros, que tiveram de fugir do país e foram para a
Suíça. Sob a influência continental, começaram a se opor ao cerimonialismo
religioso.
(b) Eduardo VI
(1547-1553) - nessa época, a influência dos partidários de uma reforma profunda
da igreja inglesa se tornou mais forte. John Hooper dispôs-se a aceitar um
bispado que lhe foi oferecido, mas não a ser investido no ofício do modo
prescrito, com o uso das vestes litúrgicas. Acabou sendo lançado na prisão por
algum tempo. Foi o primeiro a expor claramente o argumento acerca das vestes.
Não eram coisas indiferentes, e sim resquícios do catolicismo. Começa a surgir
uma nítida distinção entre anglicanismo e puritanismo.
(c) Maria I
(1553-1558) - tentou restaurar a Igreja Católica na Inglaterra e perseguiu os
líderes protestantes. Muitos foram executados - Hugh Latimer (†1555), Nicholas
Ridley (†1555) e Thomas Cranmer (†1556) - mártires marianos. Outros fugiram
para o continente (Genebra, Zurique, Frankfurt), entre eles John Knox e William
Whittingham, o principal responsável pela Bíblia de Genebra. Nesse período
surgiram em Londres as primeiras igrejas independentes.
(d) Elizabete I
(1558-1603) - inicialmente esperançosos, os puritanos se decepcionaram
amargamente. A rainha insistiu em controlar a igreja, manteve os bispos e as
cerimônias. A mesma divisão anterior se manifestou entre os líderes imbuídos de
convicções protestantes - alguns, como Matthew Parker, Richard Cox, Edmund
Grindal e John Jewel, protestaram no início, mas acabaram acomodando-se ao
status quo. Aceitaram bispados e outras posições eclesiásticas sob o argumento
de que, se recusassem esses ofícios, Elizabete nomearia católicos romanos em
lugar deles. Outros, como Thomas Sampson, Miles Coverdale, John Foxe e Lawrence
Humphrey, desafiaram a rainha.
- Os puritanos
surgem com esse nome no contexto da "Controvérsia das Vestimentas"
(1563-1567) - protesto contra vestimentas clericais (propunham o uso de togas
genebrinas) e cerimônias como ajoelhar-se à Ceia do Senhor, dias santos e sinal
da cruz no batismo. Nas décadas seguintes, intensificaram-se as medidas
disciplinares da igreja e do estado contra os puritanos estritos
("não-conformistas"). Cristalizou-se o anglicanismo clássico, cujo
principal teórico foi Richard Hooker, com sua obra Leis de Política
Eclesiástica (1593). Em 1593 foi aprovado o rigoroso "Ato contra os
Puritanos".
(e) Tiago I
(1603-1625) - esse rei havia recebido uma educação calvinista na Escócia, o que
encheu de esperanças os puritanos. Eles lhe apresentaram a Petição Milenária,
que foi totalmente rejeitada na Conferência de Hampton Court (1604). Alguns
puritanos se desligaram inteiramente da Igreja da Inglaterra, entre eles um
grupo que foi para a Holanda e depois para a América, fundando em 1620 a
Colônia de Plymouth, em Massachusetts.
(f) Carlos I
(1625-1649) - esse rei manteve a política de repressão contra os puritanos, o
que levou um grupo não-separatista a ir para Massachusetts em 1630. No final do
seu reinado, entrou em guerra contra os presbiterianos escoceses e contra os
puritanos ingleses. Estes eram maioria no Parlamento e convocaram a Assembléia
de Westminster (1643-49), que elaborou os famosos e influentes documentos da fé
reformada.
Infelizmente, os
puritanos não formavam um movimento coeso. Estavam divididos principalmente no
que se refere à forma de governo da igreja. Existiam vários grupos:
presbiterianos, congregacionais, episcopais, batistas. Alguns eram separatistas
e outros não-separatistas, como os "independentes" (congregacionais
moderados). A Guerra Civil terminou com a derrota e execução do rei.
(g) Oliver Cromwell
- congregacional, líder das forças parlamentares que derrotaram o rei Carlos I.
Tornou-se o "Lorde Protetor" da Inglaterra. Durante o Protetorado ou
Comunidade Puritana (1649-1658), a Igreja da Inglaterra foi inicialmente
presbiteriana e depois congregacional. Todavia, as rivalidades religiosas
levaram ao restabelecimento da monarquia - a Restauração.
(h) Carlos II
(1660-1685) - expulsou cerca de 2000 ministros puritanos da Igreja da
Inglaterra. A Grande Expulsão (1662) marcou o fim do puritanismo anglicano.
Embora perseguidos, sobreviveram como dissidentes ("dissenters") fora
da igreja estatal e eventualmente criaram igrejas batistas, congregacionais e
presbiterianas.
(i) Tiago II
(1685-1689) - tentou restaurar o catolicismo, mas foi derrotado pelo holandês
Guilherme de Orange, esposo de sua filha Maria - a Revolução Gloriosa.
(j) Guilherme e
Maria (1689-1702) - mediante um decreto, foi concedida tolerância aos
"dissenters" (presbiterianos, congregacionais e batistas), cerca de
um décimo da população. A essa altura, os melhores dias do puritanismo já
haviam ficado para trás.
O puritanismo
americano foi muito dinâmico e influente por pouco mais de um século, desde os
primórdios na Nova Inglaterra (1620) até o Grande Despertamento (1740). Alguns
nomes notáveis dessa tradição foram John Cotton, William Bradford, John
Winthrop, John Eliot, Thomas Hooker, Cotton Mather e Jonathan Edwards.
Herdeiros recentes
da tradição puritana: Charles H. Spurgeon, D. M. Lloyd-Jones, J. I. Packer,
James M. Boice e outros.
4. O Perfil
Puritano
4.1. Terminologia
Não-conformistas: esse termo surgiu na história
inglesa quando puritanos e separatistas não quiseram aderir à Igreja da
Inglaterra (oficial) desde 1660 até o Ato de Tolerância (1689).
Não-conformidade é a atitude de não se submeter a uma igreja oficial.
Separatistas: termo aplicado ao puritano inglês
Robert Browne (c.1550-1633) e seus seguidores, que se separaram da Igreja da
Inglaterra. Mais tarde foi aplicado aos congregacionais ingleses e outros
grupos que formaram suas próprias igrejas.
Não-separatistas: os puritanos anglicanos, aqueles
que não queriam separar-se da igreja oficial, mas procuravam reformá-la. Os
fundadores de Salem e Boston (1629-1630) estavam nessa categoria.
Independentes: nos
séculos 17 e 18, os adeptos da forma de governo congregacional, em contraste
com o governo episcopal da igreja estatal inglesa.
Dissidentes
("dissenters"): aqueles que se retiraram da igreja nacional da
Inglaterra (anglicana) por motivos de consciência. O termo inclui
congregacionais, presbiterianos e batistas.
4.2.
Características gerais
Os
"não-conformistas", como também eram chamados, em geral eram
ministros com educação universitária, oriundos principalmente de Cambridge,
embora também houvesse leigos ardorosos entre eles.
Entendiam que a
Igreja Inglesa devia adotar como modelo as igrejas reformadas do continente.
O puritanismo
influenciou a tradição reformada no culto, governo eclesiástico, teologia,
ética e espiritualidade. Quatro convicções básicas: (1) a salvação pessoal vem
inteiramente de Deus; (2) a Bíblia constitui o guia indispensável para a vida;
(3) a igreja deve refletir o ensino expresso das Escrituras; (4) a sociedade é
um todo unificado.
O sentido original
do termo "puritano" apontava para a purificação da igreja, na medida
que os puritanos queriam descartar os elementos arquitetônicos, litúrgicos e
cerimoniais que consideravam conflitantes com a simplicidade bíblica. Por
exemplo, eles objetavam contra o sinal da cruz no batismo e a genuflexão para
receber a Santa Ceia.
Ao invés de
paramentos elaborados (sobrepeliz), eles preferiam uma toga preta que
simbolizava o caráter do ministro como um expositor culto da Bíblia.
Queriam que cada
paróquia tivesse um ministro residente capaz de pregar. Para alcançar esse
objetivo, promoviam reuniões de ministros para ouvir sermões e receber
orientação pastoral (suprimidas por Elizabete).
Sofrendo oposição
dos bispos e estando comprometidos com uma eclesiologia que dava ênfase à
igreja como uma comunidade pactuada, muitos puritanos rejeitaram o episcopado.
Thomas Cartwright
promoveu o presbiterianismo (1570). Robert Browne, mais radical, advogou um
sistema congregacional e defendeu a imediata separação da "corrupta"
Igreja da Inglaterra (1582). Alguns de seus seguidores "separatistas"
foram para a Holanda.
Congregacionais mais
moderados, conhecidos como "independentes", não chegaram a defender a
separação. Eles influenciaram os puritanos da Baía de Massachusetts e se
tornaram a corrente principal do congregacionalismo inglês.
Outros puritanos,
como Richard Baxter (†1691), queriam um "episcopado atenuado" que
associava características presbiterianas e episcopais.
Os puritanos não
estavam interessados somente na purificação do culto e do governo eclesiástico.
Todo o corpo político também precisava de purificação. Apoiando-se em Martin
Bucer e João Calvino, eles insistiram na criação de uma sociedade cristã
disciplinada. Achavam que uma nação inteira podia fazer uma aliança com Deus
para a realização desse ideal. Esperanças milenaristas e o exemplo do Israel
bíblico os impeliram nessa direção.
4.3. Experiência
religiosa
A Bíblia,
interpretada no espírito dos teólogos reformados continentais, era considerada
a única fonte legítima para a doutrina, liturgia, governo eclesiástico e
espiritualidade pessoal. Incentivavam a leitura doméstica da Bíblia de Genebra
(1560), uma edição comentada. Além da pregação expositiva regular aos domingos,
havia a instrução dos membros em seus lares durante a semana. Deram grande
ênfase à preparação de ministros pregadores (ex: Emmanuel College, em
Cambridge).
Os
pregadores-teólogos puritanos escreveram com detalhes sobre a maneira pela qual
a graça de Deus poderia ser identificada na experiência humana, indo além de
religiosidade formal e expressando-se numa transformação interior da morte no
pecado para a vida em Cristo, com base na fé. Os diários e autobiografias dos
puritanos revelam quão intensa essa luta podia ser e como se tornaram pessoais
os grandes temas da teologia reformada.
· Sem negligenciar a
obra e o ser de Deus ou os grandes temas da eleição, vocação, justificação,
adoção, santificação e glorificação, a ênfase dos teólogos puritanos na
experiência religiosa e na piedade prática deu aos seus escritos um teor
incomum entre os teólogos reformados de outras partes da Europa. Um bom exemplo
disso é O Peregrino (1676), de John Bunyan.
A ênfase prática da
teologia puritana levou-a a dar grande atenção à ética pessoal e social em
casos de consciência, discussões sobre vocação e o relacionamento entre a
família, a igreja e a comunidade no propósito redentor de Deus.
A reforma do culto e
da prática religiosa popular, ouvindo e obedecendo a palavra de Deus, bem como
a santificação do tempo convergiram no desenvolvimento do sabatarianismo, um
dos legados mais duradouros da teologia puritana aplicada.
4.4. Teologia
Segundo William
Ames, a teologia "é para nós a suprema e a mais nobre das disciplinas
exatas. É um guia e plano-mestre para o nosso fim mais elevado, enviado por
Deus de maneira especial, tratando das coisas divinas... Não existe preceito de
verdade universal relevante para se viver bem em economia doméstica,
moralidade, vida política e legislação que não pertença legitimamente à
teologia" (A medula da teologia, 1623).
Os puritanos eram
estritos defensores da teologia reformada, que inicialmente tinham em comum com
a Igreja da Inglaterra (os Trinta e Nove Artigos ensinavam a doutrina reformada
da Ceia do Senhor e afirmavam a predestinação). Depois que muitos anglicanos
adotaram uma posição mais arminiana (1620s), os puritanos defenderam
vigorosamente o calvinismo devido à sua afirmação intransigente da graça
imerecida de Deus.
Alguns puritanos,
como William Perkins, William Ames e John Owen, deram importante contribuição
para o desenvolvimento da ortodoxia reformada.
Uma contribuição
puritana mais específica foi a articulação do aspecto prático e afetivo da
religiosidade. Richard Rogers, John Dod e Richard Sibbes foram fontes de um
movimento devocional puritano que floresceu especialmente após a Restauração
(1660) com grandes autores como Richard Baxter, Joseph Alleine e John Flavel.
Os puritanos
escreveram uma enorme literatura sobre a vida espiritual, incluindo sermões,
meditações, exposições bíblicas práticas, aforismos de orientação espiritual,
biografias e autobiografias.
Essa literatura dava
ênfase a temas como a experiência pessoal de conversão, a regeneração pelo
Espírito Santo, a união mística da alma com Cristo, a busca de certeza da
salvação e o crescimento em santidade de vida.
A maior expressão
dessa "teologia afetiva" foi a alegoria de John Bunyan (†1688), O
Peregrino, que retratou a vida cristã como peregrinação e luta espiritual.
A maioria dos
puritanos estavam firmemente comprometidos com uma igreja nacional, dando forte
ênfase à pureza do culto e do governo bíblicos como parte de uma reforma
contínua. Uma pequena minoria não via esperança de reforma sem separação da
igreja oficial e a criação de uma igreja de santos em relação pactual
"A fidelidade
da teologia puritana à revelação bíblica, sua abrangência, sua integração com
outros tipos de conhecimento, sua profundidade pastoral e espiritual, seu êxito
em criar uma tradição duradoura de culto, pregação e espiritualidade fazem dela
uma tradição de permanente importância no cristianismo de língua inglesa e na
tradição reformada mais ampla" (I. Breward).
4.5.
Contribuições dos puritanos
Ver Leland Ryken,
Santos no Mundo:
- Vida teocêntrica -
Toda a vida pertence a Deus
- Vendo Deus nos
lugares comuns
- A importância da
vida
- Vivendo num
espírito de expectativa
- O impulso prático
do puritanismo
- A vida cristã
equilibrada
- A simplicidade que
dignifica
4.6. Puritanos
notáveis
William Perkins (1558-1602) - sua teologia foi o
primeiro grande exemplo de uma síntese da teologia reformada aplicada à
transformação da sociedade, igreja e indivíduos da Inglaterra elizabetana. Em
sua obra mais famosa, Armilla Aurea (A corrente de ouro - 1590), ele expôs a
tradição reformada em torno do tema da teologia como "a arte de viver
bem". Deu ênfase à majestade da ordem de Deus e sua implicações sociais e
pessoais. Foi o primeiro teólogo elizabetano com uma reputação internacional.
Também destacou-se extraordinariamente como pregador.
William Ames (1576-1633) - discípulo mais
destacado de Perkins e prolífico escritor. Sua críticas contra a Igreja da
Inglaterra causaram o seu exílio na Holanda (onde foi professor) e a proibição
dos seus livros na Inglaterra. Suas obras mais famosas são: A Medula da
Teologia (1623) e Casos de Consciência (1630). Morreu poucos antes de uma
planejada mudança para Massachusetts, onde sua influência, bem como na Holanda,
persistiu até o século 18. Sua teologia prática acentuou como cada aspecto da
vida devia ser dedicado à glória de Deus.
Richard Sibbes (1577-1635) - foi estudante e
professor em Cambridge. Exemplificou a síntese entre profundidade bíblica e
sensibilidade pastoral que caracterizou a teologia puritana no que tinha de
melhor. Seus escritos são práticos antes que sistemáticos e mostram claramente
porque as ênfases puritanas foram assimiladas tão plenamente pelos leigos.
Escritos seus como A Porção do Cristão e A Exaltação de Cristo Comprada por sua
Humilhação revelam não só uma rica soteriologia, mas profundas percepções sobre
a criação e a encarnação.
Thomas Goodwin (1600-1680) - foi influenciado
por Sibbes e outros. Estava destinado a uma promissora carreira eclesiástica,
mas abriu mão da mesma ao ser convencido por John Cotton (1584-1652) da
legitimidade da independência. Depois de algum tempo na Holanda, desempenhou um
papel importante na Assembléia de Westminster. Teve atuação destacada no regime
de Cromwell e foi presidente do Magdalen College, em Oxford. Buscou unir
independentes e presbiterianos em Cristo, o Pacificador Universal (1651). Seu
profundo encontro pessoal com Cristo permeou todos os seus escritos.
Richard Baxter (1615-1691) - foi ordenado em
1638 e dois anos depois rejeitou o episcopalismo. De 1641 a 1660 foi ministro
de uma paróquia em Kidderminster. Após a guerra civil, apoiou a Restauração e
tornou-se capelão de Carlos II. Excluído da Igreja da Inglaterra após o Ato de
Uniformidade (1662), continuou a pregar e foi encarcerado em 1685 e 1686. Tomou
parte na deposição de Tiago II e deu as boas-vindas ao Ato de Tolerância de
Guilherme e Maria. Suas obras incluem O Repouso Eterno dos Santos (1650) e O
Pastor Reformado (1656).
John Owen (1616-1683) - ao lado de Baxter, o
grande pensador sistemático da tradição teológica puritana. Educado em Oxford,
enfrentou uma longa luta espiritual em busca da certeza de salvação, que
terminou por volta de 1642. Dedicou seus formidáveis dotes intelectuais à causa
parlamentar. Inicialmente presbiteriano, converteu-se à posição independente
através da leitura de John Cotton. Fez uma vigorosa exposição do calvinismo
clássico em Uma Exibição do Arminianismo (1643). Em A Morte da Morte na Morte
de Cristo (1647) fez uma brilhante apresentação da doutrina da expiação limitada.
Até o fim da vida trabalhou por uma igreja nacional mais abrangente e pela
reconciliação dos dissidentes rivais.
John Bunyan (1628-1688) - após lutar na
guerra civil, em 1653 filiou-se a uma igreja independente em Bedford. Um ou
dois anos depois, começou a pregar com boa aceitação. Foi aprisionado de modo
intermitente entre 1660 e 1672, o que lhe permitiu escrever sua obra-prima, O
Progresso do Peregrino (1678), e outros escritos. Após 1672, dedicou-se à
pregação e ao evangelismo em sua região. Outras obras famosas de sua lavra são
A Guerra Santa (1682) e Graça Abundante para o Principal dos Pecadores (1666).
Na primeira metade
do século XVII, a Inglaterra foi governada por Jaime I e Carlos I, monarcas da
dinastia Stuart, de origem escocesa.
Jaime I assumiu o
trono após a morte de Elisabeth I, que não deixou herdeiros diretos. Sob os
Stuarts, a monarquia inglesa enfrentou uma grave crise de poder com o
Parlamento, fato que levou o país a guerra civil e ao fim do absolutismo.
Entendendo um pouco
da Hitória para compreender o movimento dos puritanos
A CRISE DO
ABSOLUTISMO: MONARQUIA X PARLAMENTO
Jaime 1 (1603/1625)
tentou estabelecer na Inglaterra uma verdadeira monarquia absolutista de
caráter divino, tal como ocorria no resto da Europa. Procurou fortalecer o
Anglicanismo, através de uma política tica de elevação dos dízimos pagos à
Igreja Anglicana, pois, segundo ele, "sem bispo não há Rei". Aumentou
também os impostos alfandegários e a venda de concessão para a exploração das
indústrias de carvão alúmen e tecidos.
A tentativa de
fortalecer o poder real através da taxação repercutiu desfavoravelmente na
Câmara dos Comuns, com o argumento de que ela era contrária ao direito dos
súditos. A Câmara dos Comuns reunia deputados eleitos nos condados e nas cidades,
ou seja, a "gentry" e a burguesia urbana, grupos ligados por
interesses comerciais. Em resumo, o governo de JaimeI provocou violentas
disputas com o Parlamento e descontentamento generalizado entre seus membros.
Seu filho e sucessor
Carlos I (1625/1642) continuou com a de terminação de governar como monarca
absolutista, ignorando as novas forças sociais e econômicas que estavam se
impondo na Inglaterra. Sua política de impor empréstimos forçados e de
encarcerar aqueles que se recusavam a pagar provocou a aprovação, em 1628, da
famosa "Petição de Direitos", lei que considerava ilegal a criação de
impostos pelo rei, sem o consentimento do Parlamento e proibia a prisão
arbitrária.
Em represália,
Carlos I governou durante onze anos sem convocar o Parlamento. Para sustentar o
Estado, ele criou taxas, restabeleceu tributos feudais, cobrou multas,
multiplicou monopólios e estendeu o imposto do "ship money", pago
apenas pelas cidades portuárias para a defesa da marinha real, às demais
regiões do país.
Outro grave problema
ocorreu quando Carlos I tentou impor o Anglicanismo a Escócia presbiteriana
(calvinista), provocando a invasão da Inglaterra pelo exército escocês. Com o
país ocupado e a burguesia recusando-se pagar o "ship money" o
monarca não teve outra saída senão convocar o Parlamento, para obter recursos.
Ao entrar em funcionamento, em 1640, o Parlamento despojou Carlos I de toda
autoridade, aboliu o "ship money" e aprovou uma lei que tornava sua
convocação obrigatória, pelo menos uma vez a cada três anos.
Em 1641, uma revolta
na Irlanda católica desencadeou a crise que levou à Revolução. 0 Parlamento
recusou-se terminantemente a entregar o comando do exercito destinado à
reconquista da Irlanda ao rei, por não confiar nele. Carlos I, entretanto, não
se conformou com a perda de seus direitos de chefe das forças armadas. Com um
grupo de adeptos, invadiu o Parlamento e tentou inutilmente prender os lideres
da oposição. Sem apoio em Londres, retirou-se para o norte do país, organizou
um novo exército e acabou por mergulhar o país numa violenta guerra civil, que
durou de 1642 a 1649.
A REVOLUÇÃO
INGLESA OU "REVOLUÇÃO PURITANA"
O confronto entre a
Monarquia e o Parlamento, agravado pelas divergências religiosas, levou ao
conflito armado: teve início a guerra civil (1642-1649) - também chamada
"Revolução Puritana" - envolvendo os "Cavaleiros, partidários do
Rei e os "Cabeças Redondas", defensores do Parlamento.
Os realistas eram
principalmente anglicanos e católicos e seus adversários eram puritanos"
(calvinistas) moderados e radicais defensores dos direitos à propriedade e sua
livre exploração.
Entretanto, os dois
grupos pertenciam basicamente às mesmas classes sociais, de proprietários de
terras: a alta nobreza, a gentry e a burguesia.
Para o historiador
inglês Christopher Hill, a divisão fundamental da sociedade inglesa, que levou
à guerra civil, não era de fundo religioso ou social e sim econômico:
"As regiões
partidárias do Parlamento eram o sul e o leste economicamente avançados; a
força dos realistas residia no norte e no oeste, ainda semifeudais. Todas as
grandes cidades eram parlamentares; freqüentemente, contudo, suas oligarquias
privilegiadas sustentam o rei... Só uma ou duas cidades episcopais, Oxford e
Chester, eram realistas. Os portos eram todos pelo Parlamento... "mesma
divisão encontramos no interior dos condado., os setores industriais eram pelo
Parlamento, mas os agrícolas pelo rei."
Entre os
"Cabeças Redondas" destacou-se Oliver Cromwell, membro da gentry, que
chefiou a cavalaria do exército do Parlamento, sendo 1 responsável pelas
primeiras vitórias sobre os realistas, em 1644.
Cromwell organizou
seu regimento de forma democrática: os soldados eram pequenos e médios
proprietários rurais, alistados voluntariamente e o critério de promoção
baseava-se exclusivamente na eficiência militar. Aos poucos, as forças do
Parlamento passaram a se organizar da mesma maneira, formando o "New Model
Army", imbatível nos campos de batalha.
No rastro do New
Model Army, surgiu um novo partido, de tendência democrática, os
"Levellers" (niveladores), formado por pequenos proprietários rurais,
que defendiam a extinção da monarquia, o direito de voto e de representação no
Parlamento a todos os homens livres, a separação entre a Igreja e o Estado, o
livre comércio e a proteção da pequena propriedade.
Sob a liderança de
Oliver Cromwell, o New Model Army, apoiado pelos niveladores, venceu a guerra,
prendeu e decapitou o rei Carlos I e proclamou a república, em 1649. A
monarquia foi considerada "desnecessária, opressiva e perigosa para a
liberdade, segurança e interesse público do povo". A Câmara dos Lords
também foi extinta, por "inútil e perigosa".
A REPÚBLICA DE
CROMWELL (1649-1658)
Sustentado pelo
exército, Cromwell logo dominou o Parlamento e o Conselho de Estado criado no
lugar do rei. A partir de 1653, transformou-se em ditador vitalício e
hereditário, com o título de Lord Protetor.
Entretanto, o novo
governo não atendeu as reivindicações dos "niveladores" de direito às
terras e seu partido foi derrotado, Na República de Cromwell (ou commonwealth),
prevaleceram os interesses da burguesia e da gentry. As estruturas feudais
ainda existentes foram eliminadas, favorecendo o livre desenvolvimento do
capital. As terras dos defensores do Rei e da Igreja Anglicana foram confiscadas
e vendidas para a gentry. A propriedade absoluta das terras ficou legalizada
favorecendo o cercamento dos campos para a produção para o mercado. Com isso,
muitos camponeses foram definitivamente expulsos da área rural ou
transformaram-se em mão-de-obra assalariada.
De fundamental
importância para o desenvolvimento comercial e marítimo da Inglaterra, foi à
promulgação do "Ato de Navegação" de 1 1651, estabelecendo que o
transporte de mercadorias importadas para o país deveria ser feito apenas em
navios ingleses. No plano externo, Cromwell manteve a conquista da Irlanda e da
Escócia e ampliou o império colonial inglês no Caribe e o domínio dos mares.
A Lei de
Navegação inglesa de 1651
"Para o
progresso do armam o marítimo e da navegação, que sob a boa providencia e
proteção divina interessam tanto à prosperidade, à segurança e ao poderio deste
Reino (...) nenhuma mercadoria será importada ou exportada dos paises, ilhas,
plantações ou territórios pertencentes a Sua Majestade, na Ásia, América e
África, noutros navios senão nos que sem nenhuma fraude pertencem a súditos
ingleses, irlandeses ou gauleses, ou ainda a habitantes destes países, ilhas,
plantações e territórios e que são comandados por um capitão inglês e
tripulados por uma equipagem com três quartos de ingleses ( ... )."
Após sua morte em
1658, Oliver Cromwell foi sucedido por seu filho Richard Cromwell que,
entretanto, não conseguiu governar, pois não exercia a mesma influência que o
pai sobre o exército. Após breve período de crise, o Parlamento convocou Carlos
II para assumir o trono, em 1660.
A REVOLUÇÃO
GLORIOSA DE 1666/1689 - A VITÓRIA DO PARLAMENTO
A restauração no
trono da Inglaterra dos Stuarts (Carlos II e Jaime II) não significou a volta
ao absolutismo e sim a afirmação do Parlamento como a principal força política
da nação.
Carlos II
(1660-1685) submeteu-se às limitações do poder real impostas pelo Parlamento,
com o qual conviveu em harmonia até quase o final de seu governo. Em 1679,
votou-se a importante lei do "Hábeas Corpus" (hoje adotada por todos
os países democráticos), que protegia o cidadão das prisões e detenções
arbitrárias, constituindo valioso instrumento de garantia à liberdade
individual.
Seu sucessor Jaime
II (168 -1688) pretendeu restabelecer o Catolicismo, contra os interesses da
maioria protestante, desafiando o Parlamento. Foi deposto por um golpe de
Estado, na "Revolução Gloriosa" (1688-1689), assim chamada porque
ocorreu sem os derramamentos de sangue e sem os radicalismos da Revolução
Puritana, da qual pode ser considerada um complemento.
A Coroa foi entregue
ao príncipe holandês e protestante, Guilherme de Orange, genro de Jaime II. Em
1689, o Parlamento aprovou e o Rei sancionou o "Bill of Rights" ou
"Declaração de Direitos". Essa lei limitou a autoridade do monarca,
deu garantias ao Parlamento e assegurou os direitos civis e as liberdades
individuais de todos os cidadãos ingleses.
A DECLARAÇÃO DE
DIREITOS
"A Declaração
de Direitos redigida pelo Parlamento em 1689, é precedida de um longo preâmbulo
que expõe as violações das leis e costumes do Reino da Inglaterra por Jaime II
e relembra as condições da subida ao trono de Guilherme de Orange. A Declaração
expõe em seguida os direitos e liberdades do povo inglês.
Eis alguns artigos:
Art 1o. Que o
pretenso poder de suspender a execução das leis pela autoridade real, sem o
consentimento do Parlamento, é contrário às leis.
Art. 4o. Que toda a
retirada de dinheiro para uso da Coroa, sob pretexto da prerrogativa real, sem
que tenha sido estipulada pelo Parlamento, ou por tempo mais longo ou de outro
modo com que tenha sido concedida, é contrária às leis.
Art. 6o. Que criar e
manter um exército no Reino em tempo de paz sem o consentimento do Parlamento,
é contrário às leis.
Art. 8o. Que as
eleições dos deputados ao Parlamento devem ser livres.
Art 9o. Que os
discursos feitos nos debates no Parlamento não devem ser examinados em nenhuma
Corte nem em outro lugar a não ser no próprio Parlamento.
A Guerra Civil e a
Revolução Gloriosa consolidaram, na Inglaterra, o sistema monárquico-parlamentar
vigente até nossos dias.
0 predomínio da
gentry e da burguesia mercantil, no Parlamento, criou as condições necessárias
ao avanço da industrialização e do capitalismo, no decorrer dos séculos XVIII e
XIX.
Revolução Inglesa ou
Puritana
A REVOLUÇÃO
INGLESA (1642-1688)
1) Burguesia contra
o Absolutismo
1.1. A burguesia se
fortalece, e o Absolutismo passa a ser um estorvo
Desde a formação do
Absolutismo na Inglaterra, com a Dinastia dos Tudor (1485-1603), a burguesia
comercial beneficiou-se do sistema de monopólio defendido pelo Estado.
Entretanto, na
medida em que o contingente numérico da burguesia se expandiu (ou seja,
surgiram muitos novos burgueses) ao longo do século XVI e XVII, formaram-se
duas categorias dentro da burguesia: uma, por um lado, detentora de privilégios
monopolistas sobre o comércio externo, e outra, restrita ao comércio interno e
privada das vantagens oferecidas pelo Absolutismo.
No seio desta
burguesia "deserdada" pelo Estado, destaca-se um novo tipo, a
burguesia industrial.
Assim, no século
XVII, a maior parte da burguesia inglesa (incluindo a dinâmica burguesia
industrial) era prejudicada pelo mercantilismo e pelo sistema de monopólios, e
desejava eliminá-lo.
2) A Dinastia
Stuart: um reforço inoportuno do absolutismo
2.1. No lugar
errado, na hora errada: a Dinastia Stuart (1603-1649 / 1660-1688)
O último monarca da
Dinastia Tudor, Elizabete I, não deixou herdeiros, e por isso, ocuparam o trono
da Inglaterra seus parentes mais próximos, os Stuart da Escócia.
Os Stuart tiveram
como principal meta política reforçar o Absolutismo na Inglaterra, tentando
aproximálo do modelo francês. Para isso, adotaram com maior ênfase a idéia de
direito divino. Tiveram grande desprezo pelo Parlamento e pelas opiniões da
burguesia e da gentry.
Jaime I (1603-1625)
aliou-se aos grandes nobres e vendeu inúmeros títulos de nobreza.
Já Carlos I
(1625-1648) empreendeu uma severa política fiscal, aumentando os impostos para
financiar os gastos da monarquia inglesa, sobretudo militares. O aumento da
carga tributária passou a ser combatido pelo Parlamento, amparado na Magna
Carta, que proibia cobranças de impostos sem consentimento dos contribuintes.
Entretanto, os Stuart permaneceram insensíveis aos protestos, agindo de forma
ilegal para a obtenção de recursos para o Estado.
No plano religioso,
os Stuart defenderam a uniformidade religiosa da Inglaterra em torno da Igreja
Anglicana, perseguindo ferozmente os puritanos (calvinistas). Vale lembrar que
o calvinismo era a religião da maior parte da burguesia "deserdada"
(aquela que não usufruía das vantagens do Estado).
Em 1628, a maioria
burguesa reunida no Parlamento aprovou a Petição de Direitos, declaração formal
que reforçava os princípios da Magna Carta (1215) contra as medidas arbitrárias
do Rei . Os Stuarts aceitaram num primeiro momento o protesto, mas em 1630,
ordenam o fechamento do Parlamento, iniciando na Inglaterra o chamado Período
da Tirania (1630-1640).
2.2. Os Stuart
convocam o apoio da burguesia, mas já era tarde
Diante da
resistência da Escócia ao Absolutismo dos Stuart e da tentativa de expandir a
Igreja Anglicana para esta região (a Escócia era Calvinista Presbiteriana), os
Stuart convocaram os Parlamento buscando apoio financeiro dos principais
líderes da burguesia para uma guerra contra os escoceses (1639).
A burguesia, reunida
no Parlamento, não aceita as imposições dos Stuart e revoga a maior parte dos
impostos cobrados ilegalmente. A Inglaterra estava assim dividida entre dois
poderes: o Parlamento, dando ordens por um lado, e o Rei, governando por outro.
3) A Guerra Civil
(1642-1649)
3.1. Inicia-se o
conflito entre o Parlamento e o Rei
Aliados do Rei
("cavaleiros")
A nobreza feudal do
Norte, enfraquecida após a Guerra das Duas Rosas, resolve apoiar o Rei contra a
burguesia, desejosa de resgatar seu prestígio perdido.
Igreja Anglicana
Burgueses associados
ao Absolutismo, prestigiados pelos monopólios e pelo mercantilismo.
Inimigos do Rei
("Puritanos", "Cabeças Redondas")
Gentry
Toda a burguesia
excluída dos monopólios do Estado (em especial a burguesia industrial).
Ao fim da Guerra
Civil, o Rei Carlos I Stuart foi decapitado pelas forças revolucionárias.
4) A República de
Cromwell (1649-1660)
4.1. Diante das
dificuldades, burguesia entrega poder a Cromwell
Diante do boicote
sofrido pela Inglaterra por parte dos Estados Absolutistas da Europa, e da
crise econômica gerada pela Guerra Civil, a burguesia vitoriosa não teve outra
alternativa senão entregar o poder pessoalmente a Cromwell, que a partir de
1653, assumiu o poder como Lorde Protetor, eliminando o Parlamento e atuando
como um ditador.
Cromwell aboliu a
propriedade feudal e instituiu o Ato de Navegação (1651) que garantia que
somente navios ingleses (ou procedentes do país de origem das mercadorias
transportadas) poderiam comercializar em portos da Inglaterra. Este ato
reforçou o poderio naval inglês.
O Ato de Navegação
resultou na Guerra Ango-Holandesa (1652-54), com vitória inglesa.
4.2. Levellers e True Levellers (diggers)
Os Levellers eram
uma facção política formada pequenos proprietários rurais que almejavam a
expansão dos direitos políticos na Inglaterra, tentando ir além do voto
censitário.
Já os Diggers eram
uma facção política formada por camponeses, que pretendiam, além da expansão
dos direitos políticos, a reforma agrária.
A ameaça dos
Levellers e o dos Diggers foi utilizada por Cromwell e seus seguidores como
justificativa para a ditadura.
5) A Restauração
Stuart e a Revolução Gloriosa
5.1. Cromwell morre
e os Stuart retornam ao poder (1660-1688)
Em 1658, com a morte
de Cromwell, e após os dois anos do governo de Ricardo, filho de Cromwell, o
Parlamento aceita o retorno da Dinastia Stuart, mas desta vez exigindo completa
obediência dos Reis aos princípios da Magna Carta e da Petição de Direitos.
Carlos II
(1660-1685) assume a coroa, mas com claras indicações de que reconduziria a
Inglaterra ao absolutismo de fato.
Com isso o
Parlamento se divide em duas facções; os Whigs (liberais, partidários de um
governo parlamentar) e os Tories (conservadores, partidários da presença forte
dos Stuart como garantia contra tendências radicais surgidas no contexto da
revolução).
Os Stuart, a
despeito do Parlamento, resgatando os monopólios, e tentar ir mais além,
buscando a conversão da Inglaterra ao Catolicismo.
Jaime II (1685-1688)
esposara uma nobre protestante e com ela tivera duas filhas, uma das quais
casada com Guilherme de Orange, chefe de Estado das Províncias Unidas da
Holanda. Em seu segundo casamento, escolhera uma esposa católica, e com ela
tivera um filho. Assim, nascia um herdeiro católico para o trono da Inglaterra,
Escócia, Irlanda e Gales, o que era demais para o Parlamento consentir.
5.2. O Parlamento se
revolta e depõe finalmente os Stuart (1688)
Diante da
resistência dos Stuart em aceitar as mudanças impostas pela Revolução Puritana,
Tories e Whigs (conservadores e liberais, no Parlamento) resolvem decretar
oposição aberta ao Rei.
O parlamento
estabelece aliança com o Príncipe Guilherme de Orange, genro de Jaime II
Stuart, para que assumisse o poder na Inglaterra, e solicita que venha apoiado
por um exército.
Com o desembarque do
príncipe de Orange na Inglaterra, juntamente com suas tropas, Jaime II foge com
destino a França, mas é capturado. Desejando não criar um novo mártir para a
causa absolutista, Guilherme de Orange permite que Jaime II fuja em segredo.
Ele é acolhido por Luís XIV, que lhe ofereceu um palácio e generoso subsídio do
Estado francês.
Guilherme de Orange
torna-se Guilherme III da Inglaterra (1689) e passa a governar em conjunto com
Ana da Bretanha, sua mulher (filha de Jaime II Stuart). Aceitam todos os
limites impostos pela burguesia ao Poder Real através da Declaração de Direitos
(Bill of Rights). Assim, o Parlamento volta a ser a autoridade central na
Inglaterra.
A Declaração de
Direitos garantia liberdades civis, de imprensa e opinião, proteção à
propriedade privada e autonomia do Judiciário. Estabelece taxações submetidas à
aprovação parlamentar, e pelo Ato de Tolerância, fica estabelecida a liberdade
religiosa.
Em 1689, vom apoio
de Luís XIV e do exército francês, Jaime II desembarcou na Irlanda, O
Parlamento Irlandês não havia reconhecido a deposição dos Stuarts, e ainda
desejava o domínio de um rei católico. As tropas inglesas desembarcaram em 1690
e na Batalha de Boyne, Jaime II foi vencido e retornou para a França.
Luís XIV ofereceu a
Jaime II sua eleição como Rei da Polônia, mas o ex-monarca Stuart recusou,
temendo que a aceitação "não fosse entendida pelo povo inglês", e
impedisse seu "triunfal retorno" ao poder na Inglaterra.
Cansado de Jaime II,
Luís XIV desiste de qualquer tipo de ajuda aos Stuarts.Este foi o primeiro
processo de extinção do Absolutismo em um país europeu e de hegemonia das
idéias burguesas, que serviria de exemplo para processos semelhantes
posteriormente.