JOHN KNOX
O FUNDADOR DO PURITANISMO
Muita
gente pensa em John Knox unicamente em termos da Escócia e, portanto, essa
gente acha que só aos escoceses cabe celebrá-lo e comemorar a sua obra. A
resposta para isso pode ser dada desta maneira: todos os que visitaram Genebra
e viram a Placa ou Memorial em homenagem aos grandes reformadores, terão notado
que John Knox está incluído entre eles. Ele está naquela augusta companhia,
com Calvino e Farei; e isso deveria ser suficiente para fazer-nos compreender,
não somente que John Knox fez grandes e maravilhosas coisas na Escócia, e sim
também o caráter internacional da sua obra.
Proponho-me a considerar com vocês este homem em termos de uma
declaração feita por Thomas Carlyle - um cidadão escocês, é certo, mas, não
obstante, um historiador de fama, e que não diz as coisas levianamente. Em seu
livro, Os
Heróis e o Culto aos Heróis ("Heroes and Hero Worshippers") diz ele:
"Ele foi o sumo sacerdote e o fundador da fé que veio a ser a fé
característica da Escócia, da Nova Inglaterra e de Oliver Cromwell - isto é, do
puritanismo". Carlyle de fato não inclui a Inglaterra - devia tê-lo feito -
porém inclui a Nova Inglaterra e Oliver Cromwell. Ele reivindica em favor de
John Knox que ele foi o pai e fundador de um movimento que levou a eventos
extraordinários, não somente nas Ilhas Britânicas, mas bem mais distante, a
eventos que influenciaram todo o curso da história. Essa declaração da Carlyle
é justificável? Podemos consubstanciar a sua alegação? Proponho-me a demonstrar
que em nenhum sentido se pode acusar Carlyle de exagero.
Antes de
passarmos a pensar em Knox em particular como o fundador do puritanismo, deixem-me
dar-lhes um breve esboço da sua vida. Ele foi criado no catolicismo romano e se
tornou sacerdote. Houve época em que ele era conhecido como "Sir"
John Knox. Foi criado na pobreza, numa família pobre, sem antecedentes
aristocráticos e ninguém que o recomendasse. Tornou-se o grande homem que foi,
unicamente como resultado das suas extraordinárias habilidades naturais, e
ainda mais como resultado da sua conversão. Ele foi convertido de maneira
extraordinária, pela instrumentalidade de certos luminares de primeira grandeza
da Reforma na Escócia - George Wishart e outros. Ele passou por uma mudança
completa e, naturalmente, deu as costas ao catolicismo romano. Finalmente
achou-se em St. Andrews, onde começou a participar das atividades. A princípio
ele não pregava, mas posteriormente foi forçado a fazê-lo. O resultado foi que,
quando os franceses tomaram St. Andrews e fizeram bom número de prisioneiros,
John Knox viu-se trabalhando como escravo numa galera francesa, e isso por
quase dois anos. Foi uma experiência extenuante, na qual ele sofreu, não só os
rigores desse tipo de vida, como também uma intensa crueldade. Isso, sem
dúvida, deixou sua marca em toda a sua vida, porque minou a saúde dele;
conseqüentemente teve que manter constante luta contra a enfermidade.
Finalmente
pôde sair daquela situação, e voltou para a Inglaterra e Escócia. A situação
ficou muito difícil para ele na Escócia, pelo que ele se estabeleceu na
Inglaterra. Ele foi designado ministro e pregador em Berwick-sobre-o-Tweed
("Berwick-on-Tweed"), e permaneceu lá e em Newcastle-sobre-o-Tyne
("Newcastle upon Tyne") de 1549-51. (Há muita discussão sobre se ele
nasceu em 1503 ou 1504, ou por volta de 1513 ou 1515. Isso não importa. O
importante é que ele era homem de idade quando foi convertido nalgum ponto da
década de 1540, e se tornou pregador em Berwick e Newcastle.) Depois disso ele
veio para Londres; e nesse tempo Eduardo VI estava no trono. Knox tornou-se um
dos capelães e pregadores da corte. Assim, ele estava no centro das atividades
da Inglaterra, e em muitas ocasiões pregou na presença de Eduardo VI e da
corte. Eduardo VI morreu com 16 anos de idade, e Maria, "Maria, a
Sanguinária", subiu ao trono da Inglaterra. Knox e vários outros tiveram
que fugir para proteger as suas vidas. Acabaram indo para o continente e
começaram a estudar sob João Calvino, em Genebra; entretanto, nesse meio tempo,
ele foi chamado para servir como co-pastor dos refugiados ingleses que tinham
formado uma igreja em Frankfurt-sobre-o-Meno. Assim, com muita relutância, e
principalmente como resultado da persuasão de Calvino, ele foi para lá e
pastoreou a igreja. Depois de muita dificuldade e disputa, ele foi mandado
embora de Frankfurt e foi para Genebra, junto com vários outros refugiados, e
ali de novo se tornou pastor da igreja inglesa, de 1556-59. Então, em abril de
1559, após a morte de Maria, e quando Elizabeth subiu ao trono, em 1558, ele
pôde retornar, não somente às Ilhas Britânicas, e sim também à Escócia. Começou
a sua grande obra, a obra da sua vida, em certo sentido, na Escócia, em abril
de 1559, e ali permaneceu até a morte, que ocorreu em 24 de novembro de 1572.
Aí temos apenas a estrutura mínima de um esboço da história deste
homem. Existem muitas excelentes biografias dele. Recomendo uma das mais
recentes, de autoria de Jasper Ridley. Compensa dedicar-lhe cuidadoso estudo e
consideração. É uma das melhores já escritas sobre ele, inteiramente superior
a uma que foi divulgada há uns trinta anos, escrita pelo lorde Eustace Percy.
Vejamos
agora a pessoa dele, propriamente dita. Nenhum homem sofreu maior difamação do
que John Knox. Algo parecido aconteceu com Calvino também; mas é muito mais
real com relação a Knox. Havia elementos, talvez, em seu caráter que
provocavam isso até mais do que no caso de Calvino; porém tudo isso baseava-se
na ignorância e, por certo, na malícia dos católicos romanos e de todos os
outros tipos de católicos. Inevitavelmente, nestes dias de ecumenismo, um homem
como John Knox é alvo de ácidos ataques. O principal interesse hoje está em
Maria - Maria, rainha dos escoceses, que é descrita, e idealizada, até mais do
que ela mesma se descrevia!
Contudo,
não estou preocupado em defender John Knox. Ele não precisa de mim, nem de ninguém,
para defendê-lo. Estudemos este homem admirável. Ele era de pequena estrutura -
fato não sem significação! Alguém disse uma vez que as maiores coisas deste
mundo foram feitas por homens pequenos e pequenas nações! Ele não era
atraente, nem, de maneira nenhuma, se distinguia por sua aparência, a julgar
pelos padrões modernos. Era um homem forte e rude e, do ponto de vista físico,
não havia nada nele que o recomendasse, exceto pelo fato de que havia algo que
lhe vinha aos olhos uma vez ou outra, que, literalmente, punha o temor de Deus
dentro das pessoas. A coisa mais notável sobre ele era a sua capacidade. Ele
não era capaz, no sentido em que Calvino o era, nem era ele um literato, no
sentido em que Calvino o era; mas um homem pode ser capaz sem ser literato.
Portanto, quando falo sobre a sua capacidade, estou pensando em particular em
seu senso de discriminação, em sua capacidade para "diferençar entre
coisas que diferem". Esta parece ter sido uma das suas características
mais notáveis, como veremos.
Outra
coisa sobre Knox era a sua assombrosa energia. Eis aí, de novo, uma
característica de todos os grandes homens que Deus usou através dos séculos.
Como ele realizou tudo que fez só se pode explicar em termos da graça de Deus,
no entanto havia algo na própria constituição do homem que explicava isso.
Estive lendo recentemente que a mesma coisa se podia dizer de Daniel Rowland, o
grande pregador galés do século 18; e notei que os seus contemporâneos sempre
comentavam a sua extraordinária energia. Esta qualidade não é só característica
dos grandes estadistas e dos grandes líderes militares e outros; é também,
geralmente, uma característica dos grandes pregadores. Isto nos faz lembrar a
definição de oratória, feita por Demóstenes; era: "ação, ação, ação".
Outra
característica de John Knox era a sua perspicácia. Se houve um homem que
precisava de perspicácia, era John Knox, na situação em que se encontrava.
Fizeram-nos lembrar nesta Conferência a aliança, ou, em todo caso, a relação
entre o Estado e a Igreja, entre a política e a religião. Isto era inevitável
naqueles dias, e significava que John Knox tinha que cooperar com certos
políticos da Escócia. É emocionante o seu extraordinário discernimento e
compreensão do pensamento desses homens e da sua duplicidade. Várias vezes ele
salvou a Reforma simplesmente por causa da sua sagacidade. Jasper Ridley
refere-se a ele como "um consumado político"; e ele era assim, e
tinha que ser! Esses homens teriam cometido traição muitas vezes, porque não
conseguiam enxergar o que estava acontecendo realmente. Não conseguiam ver o
que o inimigo estava fazendo; mas John Knox conseguia, e com que extraordinária
sagacidade ele podia salvar a situação! Em muitos casos ele foi capaz de ver
através das sutilezas da mente e do comportamento de Maria, rainha dos
escoceses, e os esforços que ela fazia para anular os dele.
Chego,
agora, à sua sabedoria. Estou salientando estes pontos por esta razão - que
este homem é geralmente considerado como fanático, como um homem duro, um homem
levado por tremenda presunção e ambição, um homem que não tolerava nenhum
desacordo ou qualquer tipo de oposição. Entretanto vocês não poderão ler nenhum
relato objetivo dele sem maravilhar-se com a sua extraordinária sabedoria. Ele
parecia saber exatamente até onde ir em cada estágio, e nunca tentava ir além
desse ponto. Alguns o concitavam a avançar, outros queriam contê-lo; mas ele
parecia seguir sempre a vereda da sabedoria. Quando estava em Berwick, por
exemplo, ele não atacava abertamente o Livro de Oração Comum, que oficialmente devia ser
utilizado; ele simplesmente não o utilizava. Vocês vêem a distinção. Dou ênfase
a isto porque muitas vezes tive que lembrar a alguns dos meus irmãos mais
jovens que este ponto é importante. Vocês não precisam estar sempre anunciando o
que fazem e ficar falando disso, pois agir é mais importante que falar. Knox
não atacava, não chamava a atenção para isso, e não punha um letreiro dizendo
que não ia usar o Livro de Oração; simplesmente não o usava. Isso indica moderação e
grande sabedoria.
Algumas
vezes Knox foi acusado de covardia porque fugiu várias vezes da Escócia - tanto
para a Inglaterra como para o continente - em tempos de perseguição e grande
perigo. Todavia, para mim, ele estava sendo governado por este princípio de
grande sabedoria e perspicácia. Ele compreendeu que, se ficasse na Escócia,
seria morto, como o foram George Wishart, Patrick Hamilton e outros antes dele.
Ele sabia que não poderia levar avante a causa; por isso fugia. Eu o justifico.
Às vezes se requer mais coragem para fugir do que para ficar e tornar-se um
mártir.
Consideremos,
a seguir, a sua moderação. Para muita gente soa completamente ridículo falar em
moderação no caso de John Knox - "aquele fanático, intolerante e
extremista". Mas a moderação do homem é quase incrível. Tomemos, por
exemplo, o conselho que ele deu uma vez ao povo de Berwick. Ele estava em
Londres justamente quando Eduardo VI estava chegando ao fim do seu reinado, um
pouco antes de Maria tornar-se rainha. Ele sabia que estes membros da sua velha
igreja em Berwick logo estariam em grandes dificuldades. O Livro de Oração, embora oficialmente
introduzido, não tinha sido imposto à Diocese de Durham porque o então bispo
de Durham, Tunstall, era mais católico que protestante, e não gostava desse Livro de Oração dos protestantes; assim, o seu
uso nunca foi imposto obrigatoriamente. Isso, naturalmente, ajudou Knox a não
lhe dar atenção; porém agora ele podia ver que haveria uma mudança, e se faria
obrigatória a disciplina; por isso ele escreve a esses amigos de Berwick e de
Newcastle e os concita à moderação.
Em que
pontos deveriam firmar-se? A primeira questão levantada foi, como assinalarei
mais tarde, o ajoelhar-se ao receber-se a Ceia. O conselho de Knox foi que, por
amor dos princípios maiores e das verdades mais importantes, eles deveriam conformar-se
com aquilo, e ele os escusaria por fazê-lo. Pois bem, isso é o princípio da
moderação na prática. Tomemos mais alguns exemplos. Quando ele foi para
Frankfurt como um dos dois ministros, viu que já tinham decidido introduzir a
Ordem do Culto, de Calvino. Eles estavam de acordo sobre isso, e achavam que
ele concordaria imediatamente, porque era um grande admirador de Calvino.
Contudo, John Knox não se mostrou disposto a concordar, e por esta razão; ele disse
que eles não deviam fazer aquilo sem consultar todos os outros refugiados
ingleses em Estrasburgo, Basiléia e outros lugares. Isso é moderação. Ele só
agiria em uníssono com os outros irmãos. Mais tarde ele e outros redigiram uma
Ordem do Culto deles próprios, à qual houve oposição. Ele mostrou mais
prontidão que ninguém para aceitar modificações e vários acréscimos a ela.
Ademais, como assinalei em minha palestra do ano passado sobre as Origens do
Puritanismo, quando o contrastamos com Richard Cox, o anglicano que tinha ido
para Frankfurt e que insistia em que a igreja, como ele o expressava, devia
ter "um rosto inglês", e que eles deviam continuar usando o Livro de Oração Comum como o tinham usado na
Inglaterra, Knox fez tudo que se pode imaginar, tudo que um homem poderia
fazer, para acomodar a oposição e encontrar acordo. Mas, tal foi a
intransigência de Richard Cox e dos que o seguiam, que impossibilitou totalmente
o acordo. Knox, tantas vezes interpretado como intolerante e cheio de
fanatismo, sobressai em fulgurante contraste como um modelo de moderação,
contrariamente àqueles anglicanos que não somente se opunham a ele, porém que o
puseram fora de Frankfurt e o fizeram fugir para Genebra.
Dirijamos
agora a atenção para a sua originalidade, a qual também quero salientar. Às
vezes se pensa que John Knox não passa de um "disco de gramofone" de
Calvino. É um engano completo. Alguns talvez carreguem essa culpa; mas John
Knox era um pensador original. Ele pensava por si mesmo e, quando o seu entendimento
das Escrituras o exigia, ele não hesitava em rejeitar, contestar e criticar as
idéias apresentadas por vultos como Tyndale, e como o próprio Calvino. Ele
discordou de Calvino e de Tyndale, por exemplo, quanto ao dever do povo cristão
para com os seus príncipes e governadores. Ele defendia a idéia de que se
fizesse oposição aos governadores, em certas circunstâncias, e até revolução,
antes dos outros chegarem perto de aceitar esse ensino - Calvino em particular.
Isso era um sinal do seu pensamento original. Ele não foi dirigido por Calvino
nessa questão, nem, na verdade, em nenhuma outra, a não ser que ele
concordasse. Ele raciocinou as coisas por si mesmo. Estou acentuando isso
porque é algo muito importante. Não devemos engolir automaticamente tudo o que
lemos nos livros, ainda que dos maiores homens. Devemos examinar tudo; e Knox o
fazia e, como digo, quando discordava, estava mais que pronto a dizê-lo. A
mesma coisa acontecia com a sua atitude para com as diversas cerimônias dos
cultos da Igreja da Inglaterra. Também nesta matéria ele estava à frente dos
outros, como vou mostrar, e quando ele escreveu o seu livro concernente a O Medonho Governo de Mulheres ("The Monstrous Regiment
of Women"), foi de novo inteiramente original.
Isso nos leva à sua coragem. Dele se disse, quando ele morreu, que
"nunca temeu o rosto do homem"; e é verdade. Além disso, eu poderia
acrescentar que ele nunca temeu o rosto das mulheres também! E ele teve que
enfrentar duas mulheres. Uma era uma mulher muito forte; e a outra, Maria,
rainha dos escoceses, era forte por causa da sua fraqueza. As mulheres fracas
podem fazer uso da sua boa aparência e da sua feminilidade de um modo que lhes
dá uma espécie de força. Faltava boa aparência a Elizabeth I, da Inglaterra,
entretanto a sua personalidade era realmente forte. John Knox teve que lidar
com ambas, e não teve medo de nenhuma delas. O grande poder delas não fazia
diferença para ele. Sua coragem é quase inacreditável. Ele se opôs, igualmente,
a Cranmer, a Ridley e a Pedro Mártir. Ele nunca teve medo de ficar sozinho e de
agüentar tudo sozinho. Ele tinha a mesma personalidade heróica que vemos em
Martinho Lutero, quando permaneceu firme na "Dieta de Worms" e
noutros lugares.
Agora
vamos fazer considerações sobre ele como pregador. Sua grande característica
como pregador era a veemência. Os grandes pregadores geralmente são veementes;
e todos nós devemos ser veementes. Isto não resulta somente da natureza; surge
da sensível percepção do poder do evangelho. A veemência, naturalmente, é
caracterizada pelo poder; e John Knox era um pregador deveras poderoso. O
resultado disso é que ele era um pregador muito influente. O efeito da sua pregação
sobre Eduardo VI, a que me referirei mais tarde, era extraordinário; e isso se
dava não só com Eduardo VI, mas com muitos outros também. É tradicional a
referência ao efeito da sua pregação sobre Maria, rainha dos escoceses. Ele
podia fazê-la chorar; não sob convicção, e sim de raiva. Ela o temia; ela dizia
que tinha mais medo das suas orações e da sua pregação do que de muitos regimentos
de soldados ingleses. Randolph, homem da corte e embaixador, disse o seguinte,
a respeito dele e da sua pregação: "A voz de um único homem é capaz de, em
uma hora, pôr mais vida em nós do que 500 trombetas ressoando continuamente em
nossos ouvidos". A voz de um só homem! Muitas vezes um único sermão
pregado por Knox mudava toda a situação. Quando os lordes e outros estavam
alarmados, temerosos e prestes a desistir, Knox subia a um púlpito e pregava; e
a situação toda se transformava. Um só homem "mais influente do que o
ressoar de 500 trombetas em nossos ouvidos"!
É isso que
a pregação pode fazer, e muitas vezes tem feito. Este era constantemente o caso
com Knox. Talvez um dos maiores tributos pagos a ele, neste aspecto, seja o que
foi feito inconscientemente por um eclesiástico inglês. Depois que Maria subiu
ao trono da Inglaterra, um certo Hugh Weston foi designado para presidir a uma
discussão sobre a celebração da Ceia e sobre outras questões, em Oxford, entre
Cranmer, Ridley e outros de um lado, e os católicos romanos do outro. Durante a
discussão Weston disse: "Um fugitivo escocês" - o que quer dizer, um
refugiado escocês - "tirou a adoração e o culto a Cristo que havia na
ordenança; como efeito da sua ação, essa heresia foi introduzida no mais
recente Livro
Comum, no Livro de Oração de 1552. A esse ponto
prevalecia a autoridade desse único homem naquele tempo". Weston não
estava se referindo ao que tinha acontecido na Escócia, mas na Inglaterra. Aí
vocês tem um notável testemunho do poder da pregação de Knox, procedente do
inimigo. Segundo esses católicos romanos, John Knox foi mais responsável pela
abolição da idolatria da "adoração da hóstia" na celebração da Ceia
do que qualquer outro. Isso ilustra o poder da sua pregação.
Passemos
agora a considerar John Knox como "o fundador do puritanismo".
Carlyle estaria certo? Seria próprio falar de John Knox como "sumo
sacerdote e fundador do puritanismo"? Toquei neste assunto o ano passado,
quando falei sobre as Origens do Puritanismo. Referi-me a isso de passagem, e
também disse que, de muitas maneiras, poderíamos rastrear as origens do
puritanismo até William Tyndale. Continuo defendendo isso; assim como também
defendo que do ponto de vista de um corpo organizado de pensamento, e da organização,
o que Carlyle afirma é justificável. William Tyndale dava ênfase a certos
princípios, tanto por seu espírito como por sua ação, mas eles se tornaram
explícitos, eu diria, no caso de John Knox. Concordo com um escritor do século
passado, cujo nome é Lorimer, quando ele declara que o único outro candidato ao
título de "fundador do puritanismo" foi John Hooper, bispo de
Gloucester. Concordo ainda com Lorimer quando ele afirma que, indubitavelmente,
temos que pôr Knox antes de Hooper. Eles concordavam em muitas coisas, porém
havia certas diferenças entre eles que irão aparecendo conforme avançamos.
Em que
sentido, então, é certo dizer que Knox foi "o fundador do
puritanismo"? A primeira resposta é propiciada por sua originalidade de
pensamento, sua independência. O puritano é, por definição, um homem de
independência, de pensamento independente. O puritano nunca é "um homem
das instituições oficiais". Digo isso não só em termos da "religião
oficial", mas também em termos de qualquer aspecto da oficialização
institucional. Para mim, este é um ponto sumamente importante. Há alguns que
parecem ter nascido como "homens das instituições oficiais". Seja
qual for a esfera da vida em que se achem, estão sempre do lado das autoridades,
daquilo que sempre tem sido feito e das condições como são. Sua grande
preocupação é preservar o passado. Acham-se nas igrejas livres tão comumente
como na comunhão anglicana e noutras formas de cristianismo. São homens
pertencentes ao que é oficial; sempre partem dessa posição. Pois bem, eu firmo
que o puritano, por sua natureza e por seu espírito, nunca é um "homem das
instituições oficiais", graças à sua independência e originalidade, à sua
leitura pessoal das Escrituras e ao seu desejo de conhecer a verdade
independentemente do que outros possam ter dito ou pensado.
Segundo, Knox é "o fundador do puritanismo" porque ele
apresenta com muita clareza os princípios normativos do puritanismo. Isto é,
primeiramente e acima de tudo, a autoridade suprema das Escrituras como a
Palavra de Deus. Não preciso aprofundar-me nisso. O catolicismo romano põe em
primeiro lugar a igreja, a sua tradição e a sua interpretação das Escrituras; e
todas as igrejas reformadas imperfeitamente continuaram a fazer o mesmo. No
entanto a característica peculiar do puritano é que ele assevera a autoridade
suprema da Palavra de Deus. Este era o princípio normativo de Knox. Se uma
coisa não podia ser justificada pelas Escrituras, ele não a aceitava, e não
permitia que fosse adotada.
O segundo
princípio normativo era que ele acreditava numa reforma "de raiz e
ramos". Essa expressão não é minha; é dele, e veio a ser de outros.
Noutras palavras, os puritanos não se contentavam com uma reforma na doutrina
apenas. Aí é que Knox e eles discordavam dos líderes, na Inglaterra. Todos
estavam de acordo quanto às mudanças na doutrina. Todos eles eram calvinistas,
e isso e aquilo, mas a diferença do puritanismo é que ele não se detém numa
reforma tão-somente doutrinária, porém insiste em que a reforma seja levada
também à esfera da prática. Isto envolve todo o conceito sobre a natureza da
Igreja. Para o puritano, reforma não significa apenas modificação ou
melhoramento superficial; significa uma "nova formação" da Igreja -
não uma simples modificação de algo que sempre existiu - regida pelo Novo
Testamento e seu ensino. Esse foi o seu segundo princípio normativo.
Ele
desejava retornar à idéia neotestamentária da Igreja. Em conformidade com isso,
ele dizia que a Igreja tinha que ser reformada em suas cerimônias, noutras
palavras, em sua maneira de conduzir o culto e na administração das ordenanças.
Ele o expressou deste modo: "No culto de Deus, e especialmente na
administração das ordenanças, a regra prescrita nas Escrituras Sagradas deve
ser observada sem acréscimo ou diminuição", e "a Igreja não tem
nenhum direito de inventar cerimônias religiosas e de lhes impingir
significação". Foi por causa disso que lhe fizeram acusações. Diziam que
ele afirmava "que o homem não pode formar nem inventar uma religião
aceitável a Deus, mas está obrigado a observar e a manter a religião que de
Deus é recebida, sem trocas nem mudanças". Ele ensinava também que
"as ordenanças do Novo Testamento devem ser administradas como foram
instituídas por Jesus Cristo e praticadas pelos apóstolos. Nada se lhes deve
acrescentar e nada se lhes deve tirar". Ainda: "A missa é uma
abominável idolatria, uma blasfêmia contra a morte de Cristo e uma profanação
da Ceia do Senhor". Ele foi acusado de ensinar esses princípios; e disso
era culpado. Essa era a sua posição.
Esses
foram os seus princípios normativos. Contudo, e isto é de vital importância
nesta questão, ele aplicava os seus princípios. Ao que me parece, não existe
isso de puritano teórico ou acadêmico. Há os que se interessam pelo
puritanismo como uma idéia; mas são traidores do puritanismo, se não aplicam os
seus ensinos; pois a aplicação é sempre a característica do verdadeiro
puritano. É bom elogiar a "consciência puritana", porém se você não
obedecer à sua consciência, estará negando o puritanismo. Hooper concordava
com Knox em muitas coisas, mas Hooper tinha a tendência de retroceder sobre
aquilo em que acreditava. Quando Hooper estava para ser ordenado como bispo,
disse que não usaria as vestes costumeiras, e foi mandado para as galés;
todavia, mais tarde, ele cedeu, e usou as vestes. O ponto que estou afirmando é
que o verdadeiro puritano não somente vê estas coisas e defende estas idéias -
ele as aplica, ele age baseado nelas. É nisso que Knox é tão notável, e
superior a John Hooper. Ele sobressai, em sua conscienciosa aplicação daquilo
que ele acreditava ser o modelo neotestamentário concernente à natureza da
Igreja, às ordenanças e cerimônias, e ao exercício da disciplina.
Observemo-lo, agora, pondo esses princípios em ação. Primeiro em
Berwick-sobre-o-Tweed e em Newcastle-sobre-o-Tyne. Como vimos, ele não punha em
prática a Ordem de Oração Comum, de Eduardo VI, de 1548, nem seguia as
instruções do Livro de Oração Comum, de 1549. Neste aspecto ele foi auxiliado por Tunstall.
Muitos outros pregadores estavam se adaptando a isso; mas John Knox não. Em
sua ministração das ordenanças, ele não era dirigido pelos decretos do corpo
oficial da Inglaterra, sob o qual ele estava pregando então; nem pelo Livro de Oração.
Segundo - e este é um dos pontos vitais - era costume receber a Ceia de
joelhos. Esta é uma prática anglicana. John Knox foi o primeiro a ensinar as
pessoas - e não somente a ensiná-las, porém a pô-lo em prática - a tomar a Ceia
assentadas. Isso é puritanismo na prática. Inteiramente por sua conta, e
graças ao seu entendimento das Escrituras, ele chegou à conclusão de que é
errado ajoelhar-se para receber o pão e o vinho. Há boa evidência, penso eu,
para dizer-se que ele já tinha posto em prática esse conceito em St. Andrews,
antes de se tornar escravo nas galés francesas; mas, tenha sido assim ou não, o
certo é que ele introduziu essa prática em Berwick; e foi uma grande inovação.
Durante séculos, sob o catolicismo romano, a Ceia foi recebida de joelhos, e
esse era o costume e a prática na Igreja Reformada Anglicana. Outra inovação da
qual ele foi o líder pioneiro, foi que ele substituiu a hóstia por pão. Deixou
de usar a hóstia, que tinha sido usada durante séculos na Igreja romana, e que
ainda era usada na Igreja Anglicana até aquele tempo. Eles logo mudaram isso;
entretanto Knox foi o primeiro a fazê-lo; e o fez quando era ministro em
Berwick-sobre-o-Tweed.
Com
relação ao batismo, ele se negava a batizar os filhos de pessoas que tinham
sido excomungadas. Outros ministros o faziam. Ele recusava batismo privado e se
recusava a fazer o sinal da cruz em conexão com o batismo. Os conhecedores da
subseqüente história do puritanismo sabem que todas estas questões tornaram-se
cruciais na posição puritana através dos anos. Knox tinha introduzido essas
idéias puritanas, na prática, em seu ministério em Berwick e em Newcastle.
Knox foi
levado para Londres pelo Duque de Northumberland e se tornou capelão da corte e
pregador popular. Estamos interessados em sua história ali unicamente como o
fundador do puritanismo. Uma grande crise surgiu em 1552. Um Livro de Oração reformado fora introduzido em
1549, mas quase todos vieram a concordar que ele era inadequado, e que ainda
havia nele demasiadas relíquias e remanescentes do catolicismo romano. Por isso
decidiu-se que eles precisavam ter um novo Livro de Oração, e também novos "Artigos
da Religião". Começaram a prepará-los e, por volta de setembro de 1552,
foi produzido um novo Livro de Oração, em grande parte por Thomas
Cranmer. Eles já tinham redigido também 45 Artigos da Religião - os quais foram
a base do que finalmente veio a ser conhecido como os 39 Artigos. Eis aí o
ponto crucial. Esse novo Livro de Oração de fato havia ido para o prelo e devia entrar em uso
no dia l2 de novembro de 1552. Exemplares desse livro foram enviados
a John Knox e a outros capelães e pregadores, por cortesia, supondo-se,
naturalmente, que todos estariam de acordo. Contudo, imediatamente John Knox
viu que o livro continha algo com o que ele não podia concordar. Ficou
insatisfeito também com alguns dos 45 Artigos. O Artigo 38 declarava "que
o segundo Livro
de Oração Comum, e cada rito e cerimônia, eram santos, pios e sustentados pelas
Escrituras de Deus, e em nenhum ponto eram repugnantes a elas, tanto no
referente às orações comuns e à administração das ordenanças, quanto no
referente ao ritual".
Isso
imediatamente levou Knox a achar a situação intolerável. Por quê? Por esta
razão extraordinária: que nesse novo Livro de Oração havia uma norma que mandava o participante da Ceia
recebê-la de joelhos. Ora, isso não tinha sido declarado no Livro de Oração de 1549 Por que não? Porque
essa tinha sido sempre o costume e a prática. Fazia-se isso sob o catolicismo
romano, e se continuou a fazer na Igreja da Inglaterra; por isso não foi
mencionado em 1549. Hooper e outros estiveram questionando essa prática, bem
como Knox, e a sua prática em Berwick e em Newcastle se tornara conhecida.
Assim, Cranmer, Ridley, Pedro Mártir e outros acharam que devia ser inserida
uma instrução no Livro de Oração dizendo ao povo que os participantes tinham que
receber a ordenan-ça ajoelhados. Imediatamente Knox ficou em dificuldade. Como
poderia concordar com artigos que afirmavam que tudo, nesse Livro de Oração, era "santo, pio e
sustentado pelas Escrituras de Deus"? Isso não era verdade; era mentira.
Daí, que fez ele? Afortunadamente, ele teve uma oportunidade para
expressar-se. O rei (Eduardo VI) e a sua corte estavam em Windsor, e coube a
John Knox ser o pregador. Com a sua costumeira coragem, ele pregou precisamente
sobre essa matéria, e o fez com tal poder e efeito que sacudiu o rei em suas
bases, quanto a essa questão, e muitos outros com o rei. Knox afirmava que
ajoelhar-se era pecaminoso e idolátrico. Lembrem-se de que ele tinha contra si
Cranmer, Ridley e Pedro Mártir, e também que o Livro já estava nas mãos dos
editores, e que daí a seis semanas, ou menos, deveria ser apresentado
oficialmente, em l2 de novembro. Bem, este sermão de Knox causou
consternação e levou a muita atividade. Knox, com mais um ou dois, redigiu um
memorando expondo a sua argumentação contra o ajoelhar-se, e pleiteando que o
rei e as demais autoridades não insistissem nesse ajoelhar-se porque era
pecaminoso e idolátrico. Eles apresentaram esse memorando ao rei e ao conselho.
Após muita verificação e muita argumentação, finalmente chegaram a um termo de
concessão. Knox não conseguiu que aquela norma não entrasse no novo Livro de Oração; porém obteve um melhoramento
vital. Ele convencera de tal maneira o rei, que este assinou uma declaração, a
qual devia ser acrescentada ao Livro de Oração. Era um termo que devia ser
inserido com o fim de salvaguardar os participantes contra os perigos
decorrentes do ajoelhar-se para receberem a Ceia, e especialmente a possibilidade
de idolatria.
Há pouca dúvida de que esse termo foi redigido por Cranmer. O mesmo tem
as marcas do seu peculiar talento para a transigência. O novo Livro de Oração já fora impresso, mas ainda
estava nas mãos dos editores. Que é que as autoridades podiam fazer? Elas
imprimiram esse novo artigo, essa nova declaração sobre este assunto, numa
folha de papel separada, e o rei promulgou um decreto ordenando que essa folha
de papel fosse encartada no novo Livro de Oração. Os poucos exemplares do
impresso original que restam, ainda a têm.
Aqui vai o
artigo que John Knox, por intermédio do rei, tinha forçado Cranmer a produzir.
Diz ele: "Embora nenhuma ordem possa ser aventada com perfeição, de modo
que alguns a podem formular mal ou corrompê-la ou interpretá-la mal, seja por
ignorância ou fraqueza, ou então por contumácia e malícia; e ainda, porque o
amor fraternal o requer, com a possível conveniência, que sejam retiradas as
ofensas; estando nós dispostos a fazer o mesmo, porquanto, no Livro de Oração Comum se ordena, na
administração da Ceia do Senhor, que os comungantes recebam o pão e o vinho
ajoelhados, prática que se deve entender no sentido do humilde e agradecido
reconhecimento dos benefícios de Cristo feitos ao participante digno, e de
evitar a profanação e a desordem que acerca da celebração da Ceia poderiam
seguir—se; para que o mesmo ato de ajoelhar-se não seja entendido ou tomado
doutra maneira, nós declaramos que não se deve entender por ele que é prestada
alguma adoração, ou que se deva prestá-la, quer no pão e no vinho sacramentais
ali recebidos fisicamente, quer na presença real e essencial entendida como
sendo da carne e do sangue naturais de Cristo. Pois no concernente ao pão e ao
vinho da Ceia, estes continuam em suas substâncias naturais propriamente ditas
e, portanto, não podem ser adorados, pois isso seria idolatria que todos os
cristãos fiéis devem repudiar; e no concernente ao corpo e ao sangue naturais
de Cristo, nosso Salvador, eles estão no céu, e não aqui; pois é contra a
verdade o verdadeiro corpo natural de Cristo estar em mais de um lugar ao mesmo
tempo".
Esse
artigo veio a ser conhecido como "o artigo negro". O ponto que
defendo é que Knox foi o principal responsável por sua introdução. O artigo foi
acrescentado ao Livro de Oração como salvaguarda contra o terrível perigo de
idolatria. Pois bem, essa foi uma ação puramente puritana. A rainha Elizabeth,
quando subiu ao trono, excluiu aquele "artigo negro" do Livro de Oração, e ele só foi restaurado, com
ligeira modificação, em 1662.
Eis uma
prova positiva de que aquele homem foi o líder do "partido puritano",
desta explícita maneira: ele lutou a respeito de muitas outras coisas também,
mas falhou. Ele tentou mudar a doutrina presente no Artigo 26, sobre a natureza
das ordenanças. Knox ensinava "que Deus confere graça independentemente
das ordenanças, embora estas sejam um sinal da graça". Cranmer, por outro
lado, dizia e publicava que "a graça é conferida mediante as duas
ordenanças, que não eram apenas um sinal ou um canal da graça". Aí, de
novo, Knox esteve pelejando em favor de uma atitude puritana para com as
ordenanças, contra a de Cranmer, Ridley, Pedro Mártir e outros anglicanos
típicos.
Mais uma
prova do "puritanismo" de Knox durante aquele período em Londres está
nisto: como resultado do problema como o Livro de Oração, Knox se tornara um homem e um
líder tão proeminente, que lhe foi oferecido o bispado de Rochester. No
entanto, ele o recusou. Hooper aceitou o bispado de Gloucester, porém Knox não
quis aceitar; e a única explicação da sua recusa está nos seus princípios
puritanos. Ele jamais acreditou realmente em bispos.
Indo nós
para o tempo que ele passou em Frankfurt, ali, de novo, uma coisa muito
interessante aconteceu. Como vimos, pediram a Knox que saísse de Genebra, onde
ele estava estudando sob Calvino, para ser um dos pastores da igreja dos
refugiados ingleses que se encontraram em Frankfurt. Isso é certamente
extraordinário. Eis aí uma igreja inglesa, uma igreja fundada por alguns grandes
ingleses que tinham precisado fugir para sobreviverem; e eles pediram àquele
escocês que fosse o seu ministro. Por quê? Thomas Fuller, um inglês típico, e
não puritano, escrevendo no século subseqüente expressou-se assim: "Vocês
podem achar incongruente que, entre tantos teólogos ingleses capazes que se
achavam no exterior, um escocês fosse o pastor da igreja inglesa de Frankfurt,
a mais visível e conspícua d'além mar; e foi assim por verem o reconhecido
mérito de Knox, que o tornou aceitável, apesar de estrangeiro". Essa é uma
boa colocação.
Enquanto
em Frankfurt, Knox fez algo que é típica e caracteristicamente puritano. Ele e
Whittingham, o principal tradutor da famosa Bíblia de Genebra, redigiram uma
Ordem do Culto para substituir a do Livro de Oração Comum, da qual não gostavam.
Modificada mormente devido à moderação de Knox, essa Ordem fora aceita pela
igreja, até a chegada de Richard Cox e o seu partido. Acentuo o fato de que
John Knox, ao redigir essa Ordem do Culto, repudiou o Livro de Oração Comum. Ele não o disse abertamente,
uma vez mais, até ser confrontado pela belicosa e inamistosa oposição de
Richard Cox, cujo comportamento só pode ser descrito como inteiramente
abominável, intransigente e grosseiro - não sendo essa a última vez que os
puritanos tiveram que sofrer dessa maneira às mãos dos anglicanos. Tendo Cox
adotado essa atitude, John Knox não se dispôs mais a ficar calado. Ele
estivera disposto a não falar abertamente sobre essas coisas enquanto houvesse
uma esperança de influir nas pessoas, mas quando Cox se portou daquela maneira
escandalosa, John Knox pregou no dia seguinte, e então expôs com franqueza e
com clareza as suas idéias sobre o Livro de Oração Comum. "Na hora marcada para o
sermão", diz ele em sua subseqüente História dessas questões, "comecei
a declarar a minha opinião... (e como) fui levado a afastar-me da minha
primeira opinião". Aí está a prova de um grande homem: ele muda de
opinião. O homem pequeno é que nunca muda de opinião. Ele continuou, explicando
por que tinha mudado, e dizendo que as dificuldades da Inglaterra sob Maria
eram castigo de Deus sobre eles por não terem realizado a Reforma de maneira
mais completa, e especialmente quanto a esta questão do Livro de Oração. Ali ele expõe clara e abertamente a sua atitude para
com o Livro
de Oração. Isto
resultou em sua expulsão de Frankfurt; assim, ele foi para Genebra. A primeira
tentativa de uma igreja puritana entre ingleses, foi essa em Frankfurt. Foi um
fracasso porque Cox e seus amigos recorreram ao desprezível recurso de acusar
falsamente John Knox de alta traição ao imperador, o juiz político. Essa
acusação se baseava em certas coisas que ele tinha dito e publicado, num sermão
que pregara uma vez em Amsterdã.
Tendo falhado desse modo em Frankfurt a primeira tentativa de formar
uma igreja puritana, Knox e os que o apoiavam foram para Genebra; e o que
fracassara em Frankfurt, veio a ser um sucesso em Genebra. Ali Knox introduziu
a Ordem do Culto que tinha sido experimentada e rejeitada em Frankfurt. Ela se
tornou a Ordem do Culto de Genebra. É conhecida como o Livro de Genebra. Essa
Ordem, no Livro de Genebra, não era a de Calvino. Calvino também tinha a sua
Ordem; todavia essa era primariamente de John Knox, e foi a que ele introduziu
subseqüentemente, quando voltou para a Escócia, a qual tem sido usado, desde
aquele tempo, na Igreja da Escócia como o seu Livro de Ordem oficial.
Portanto,
em Genebra temos a primeira igreja verdadeiramente puritana entre ingleses.
Isto fornece um dos mais fortes argumentos para afirmar, com Carlyle, que John
Knox é o fundador do puritanismo inglês. Foi também enquanto em Genebra que
ele formulou o seu conceito quanto aos príncipes, e quanto à atitude do cristão
para com "os poderes que existem". Nisso ele esteve à frente de
Calvino, e este é também um sinal do seu verdadeiro puritanismo. Eu afirmo que
não se pode entender verdadeiramente a revolução que ocorreu aqui na
Inglaterra, no século seguinte, exceto à luz deste ensino. Ali estava a
primeira abertura da porta que levou ao desenvolvimento posterior.
Também,
enquanto estava em Genebra, ele publicou o seu famoso tratado intitulado O Primeiro Toque da Trombeta
Contra o Medonho Governo das Mulheres ("The First Blast of the Trumpet
Against
the Monstrous Regiment of Women"), o monstruoso "governo"
exercido pelas mulheres. John Knox acreditava que era contrário às Escrituras
ter-se uma rainha exercendo o governo sobre o povo, e apresentava declarações
específicas das Escrituras para justificar a sua atitude. O resultado foi que
Knox ofendeu mortalmente a rainha Elizabeth. Ela nunca o perdoou; mas, apesar
disso, ele preparou um segundo Toque, que nunca chegou a publicar.
Isso também não só indica a sua coragem e a sua independência de
pensamento, porém, eu o afirmo, é igualmente uma parte do seu puritanismo essencial
vindo à tona. Talvez eu deva acrescentar, para completar a minha narrativa,
que, às vezes, Knox se permitia um pouco de casuística. Ele apresentava uma
explicação de como, a despeito do claro ensino das Escrituras sobre essa
questão de uma mulher monarca, nas circunstâncias peculiares que prevaleciam
na época, era admissível que Elizabeth, na Inglaterra, e Maria, na Escócia,
agissem por um tempo como monarcas. Havia aí uma pitada de casuística. Contudo,
a sua principal posição era a estabelecida no primeiro Toque.
Mais um
fato deve ser mencionado aqui. A rainha Maria Tudor morreu, e Elizabeth subiu
ao trono, em 1558. Knox viu logo o surgimento de novas possibilidades, e assim
escreveu Breve
Exortação à Inglaterra a Abraçar Rapidamente ó Evangelho de Cristo Doravante, à
Supressão e ao Banimento da Tirania de Maria ("A Brief Exhortation to
England for the Speedy Embracing of Chrisfs Gospel Heretofore by the Tyranny of
Mary Suppressed and Banished"). Ele enviou isso de Genebra, em 1559; e
Elizabeth fez forte objeção a esse escocês que estava escrevendo aos ingleses
ara dizer-lhes como se conduzirem em seus quefazeres. Ele escreveu em termos
muito fortes. Ele naturalmente estava muito preocupado com o estado da Igreja
inglesa. Ele fora pastor entre refugiados ingleses em Frankfurt e em Genebra,
como também, anteriormente, em Berwick-sobre-o-Tweed e em Newcastle. Por isso
dirigiu-lhes esse grande apelo. Lembra-lhes o que tinha acontecido no tempo de
Maria, e de novo os pressiona com a idéia de que fora um juízo de Deus sobre
eles. Chamou-os ao arrependimento e à conversão, e depois partiu para uma
declaração extrema, que não posso defender. Nesse ponto ele era intolerante.
Disse ele que "ninguém devia ser deixado livre do jugo da disciplina da
Igreja, nem ter a permissão de declinar da religião de Deus". E mais, o
príncipe ou o rei ou o imperador que tentasse destruir a verdadeira religião de
Deus deveria "ser condenado à morte, segundo o mandamento de Deus".
Permitam-me dizer o seguinte, para abrandar: Knox nunca foi instrumento ou
causa de alguém ser levado à morte. Ele afirmava isso em princípio, porém nunca
o pôs em prática. Essa foi uma daquelas declarações extremas que é difícil
defender.
Nessa exortação à Inglaterra, nesse programa de reforma eclesiástica e
educacional, ele defendeu o estabelecimento de escolas onde o povo fosse doutrinado
e instruído nas Escrituras. Esse era um programa para reforma eclesiástica e
educacional e, eu lhes garanto, foi o primeiro esboço impresso sobre reforma
publicado pelo partido puritano da Igreja nacional. É um documento de peso. Foi
a primeira declaração impressa dos princípios puritanos com vistas à Igreja e
à sua administração. Nela Knox mostra a sua aversão pelos bispos e sugere, como
reforma prática, que todo bispado fosse dividido em dez partes, que onde
houvesse um lorde bispo, deveria haver dez homens pregando, que esses homens
deveriam pregar regularmente, e que essas grandes dioceses, e esses príncipes
da Igreja fossem abolidos. As grandes dioceses deveriam ser reduzidas a dez
corpos de mais fácil administração, e homens piedosos e doutos deveriam
receber instrução para pregar e instruir o povo em cada cidade e vila. Em
acréscimo, ele defendia a implantação de escolas.
Depois ele
voltou para a Escócia e lá permaneceu até o fim da sua vida. Mas isso não pôs
fim à sua relação com o puritanismo inglês. Ele começou a ouvir que aqueles que
o tinham seguido, noutras palavras, os verdadeiros puritanos, estavam sendo perseguidos
pelos bispos, alguns dos quais tinham sido membros das igrejas de Frankfurt e
Genebra. Assim, da Escócia ele escreveu uma carta aos bispos da Inglaterra,
reclamando e pleiteando com eles que não perseguissem os puritanos. Ele escreve
como um verdadeiro puritano àqueles outros puritanos que estavam começando a
ceder na Inglaterra, e ele mostra claramente a sua atitude para com as vestes,
a sobrepeliz etc, as quais descreve como "trapos romanistas". Ali
fala o verdadeiro puritano.
Ele
escreveu uma carta, também, aos sofredores da Inglaterra, em 1567. Essa carta
causa perplexidade a alguns porque parece desencorajá-los. Alguns daqueles
puritanos sofredores escreveram para ele, rogando-lhe que se pusesse claramente
ao lado deles. Ele já tinha feito isso, num sentido, em sua carta aos bispos;
porém ele respondeu àquelas pessoas e as exortou a não romperem, a não perturbarem
a ordem, "sendo entendido que deveriam manter acordo pela paz e pela
unidade, por algum tempo". Noutras palavras, ele lhes disse que não
cortassem os laços, que não fossem separatistas. Ele se opôs à separação;
deixem-me acentuar, porém, que ele introduziu a expressão "por algum
tempo". Muitas vezes Knox é mal compreendido neste ponto. Há os que
argumentam que ele não acreditava em separação, e que ele estava de fato do
lado dos "puritanos conformistas". Não era esse o caso. Essa carta é
apenas outro exemplo e ilustração do seu extraordinário espírito de
discriminação. Knox sempre pareceu entender que a situação da Inglaterra era
peculiar; e sem dúvida ele estava certo. Esse escocês tinha o senso, o
entendimento e a capacidade de ver que o inglês é sui generis. O inglês - e vocês não podem
ignorar estas coisas -tem talento para a transigência. Ele detesta definições
e declarações precisas. Ele até se ufana do fato de que, quando teve um
império, não tinha uma constituição escrita! Ele se gloria no fato de que
sempre "esteve em confusão". Knox sempre reconheceu isso, de modo
que quando estava em Londres, estava pronto a fazer coisas que não fizera em
Berwick e em Newcastle, e que, mais certamente ainda, não fez e não faria em
Frankfurt e em Genebra, nem quando voltasse para a Escócia. Mas quando ele
escreve para esses homens da Inglaterra, sabe que a situação é diferente; e
assim, parecendo contradizer-se, aconselha-os a tolerarem certas coisas, e a
conformar-se. Argumenta que, enquanto as autoridades continuarem pregando a
verdade em geral, eles não deverão romper com eles sobre esta questão
particular.
Observem que ele dá ênfase a "por algum tempo". Achava que
ainda havia esperança de que o poder da verdade logo iria prevalecer e que
todos veriam que deveriam despojar-se dos "trapos romanistas" e de
todas as relíquias do romanismo. Naturalmente, isso não ocorreu; e Knox morreu
em 1572. Assim, o que parece incoerência é, antes, um sinal de sabedoria e de
compreensão.
Sua
influência sobre o puritanismo não terminou aí. Continuou até mesmo depois da
sua morte. Knox escreveu uma História da Reforma na Escócia ("History of
the Reformation"), e é muito interessante observar que a História foi publicada pela primeira
vez, não na Escócia, e sim na Inglaterra, pelos puritanos, em 1587. Não só
isso, John Field, um puritano proeminente que publicou outro tratado de autoria
de John Knox, na introdução desse tratado honrou-o com o mais caloroso tributo
referindo-se a ele como "muito digno e notável instrumento de Deus" e
descrevendo o tratado como "um selo dos seus piedosos e maravilhosos
labores, levando na vanguarda o espírito heróico e audaz que ele era".
A
influência de Knox continuou ainda no século seguinte. John Milton, ao escrever
um tratado justificando a condenação à morte de Carlos I, criticou duramente
John Knox. É por isso que eu dou tanta ênfase à sua perspicácia e à sua compreensão
das Escrituras nesta questão de, não somente opor-se aos governantes às vezes,
porém até mesmo, se necessário, de condená-los à morte. O fato de que John
Milton reconheceu isso, certamente é uma poderosa prova de que Knox é o
fundador do puritanismo. Em 1683, quando Carlos II estava começando a mostrar
abertamente que era um católico romano, à ordem das autoridades as obras de
John Knox foram queimadas em público em Oxford, e foi promulgada uma proibição
de que as suas obras fossem lidas. Observem: em 1683, e Knox morreu em 1572! A
sua influência continuava e era temida. Ele é de fato o fundador do
puritanismo inglês, bem como do puritanismo da Escócia.
Consideremos
o caso dos Pais Peregrinos. Knox está por trás de toda a atitude deles para com
o Estado e para com os governantes; e assim ele é, como Thomas Carlyle afirma,
o fundador do puritanismo americano, exatamente da mesma maneira. Na verdade,
eu argumentaria que, de muitas maneiras, ele é o pai da Guerra da
Independência Americana, que chegou a uma triunfal conclusão, do ponto de vista
dos colonizadores, em 1776. Foi ele que abriu a porta para tudo isso.
Que
faremos com esse homem? Ele foi um homem para a sua era; um homem para os seus
tempos. Para épocas especiais são necessários homens especiais; e Deus sempre
produz tais homens. Um homem brando teria sido inútil na Escócia do século 16,
e em muitas partes deste país. Era necessário um homem forte, um homem austero,
um homem corajoso; e esse homem era John Knox. Martinho Lutero era do mesmo molde.
Deus usa diferentes tipos de homens, e lhes dá personalidades diferentes.
Homens diferentes são necessários em tempos diferentes. Naqueles tempos era
necessário um caráter heróico e rude; e Deus produziu o homem.
Para que
ninguém continue pensando que ele era um homem duro, encerro fazendo referência
à sua extraordinária humildade. "Humildade em John Knox?", dirá
alguém. Ele era um homem sumamente humilde. O fato de que um homem luta
ousadamente pela verdade e não se rende, não significa que ele não é humilde.
Ele não está lutando em seu próprio favor; está lutando pela verdade. Posso
provar que John Knox era um homem muito mais humilde do que muitos que
pertencem ao ministério hoje. Depois da sua conversão, ele estava em St.
Andrews, e foi convidado para pregar; todavia ele se recusou a fazê-lo. Ele não
quis pregar, alegando, e estas são as suas palavras, "que ele não queria
agir onde Deus não o chamara", querendo dizer que não queria fazer nada
sem um senso de legítima vocação. Knox não queria pregar sem estar
absolutamente certo da sua vocação. Um capelão chamado John Rough dirigiu-se a
Knox certo dia, e lhe pediu que pregasse e não recusasse o fardo. Pediu aos
presentes que mostrassem que eles lhe tinham solicitado que convidasse Knox, e
os presentes disseram que fora assim. Ali estava toda uma igreja local
convocando Knox para pregar. Qual foi a sua resposta? "Diante disso Knox
caiu em lágrimas e se retirou para o seu quarto." Ficou num estado de
profunda depressão e ansiedade, até que chegou o dia do seu primeiro sermão.
"Todos podiam ver como ele estava abalado, pois ele nunca sorria, evitava
companhia quanto podia, e passou o tempo todo ensimesmado."
Que contraste com aqueles que estão sempre prontos a subir correndo ao
púlpito para pregar! Isso é verdadeira humildade, e também o espírito puritano.
É "o temor do Senhor", o receio de ficar entre Deus e o homem, e de
proclamar "as insondáveis riquezas de Cristo". Nunca o puritano
acredita que todo aquele que foi convertido é, por isso, chamado para pregar,
nem que ele pode fazê-lo sempre que quiser, atendendo ao seu próprio chamado.
Ele quer ter certeza de que é chamado, porque tem profunda consciência do
caráter sagrado da tarefa. À semelhança de Paulo, o apóstolo, ele o faz
"em fraqueza, e em temor, e em grande tremor" (I Coríntios 2:3).
Knox
geralmente é tido como arrogante, e como alguém que era rude na presença de
Maria, rainha dos escoceses. Mas isso tudo se baseia na falácia daquilo que faz
do homem um elegante afetado. Baseia-se também num errôneo entendimento da
verdadeira feminilidade, e do que uma verdadeira mulher aprecia. A idéia geral
de um homem mulherengo é próprio de uma sociedade amiga da afetação. Contudo
esse não é o homem que as mulheres apreciam, pois uma mulher digna desse nome
não dá a mínima para uma delicadeza afetada. A verdadeira mulher gosta do
homem forte; e quando lemos a vida de Knox, vemos que muitos dos seus
correspondentes eram mulheres. Esse reformador austero, esse homem que combatia
lordes e príncipes, e que costumava opor-se às autoridades, passava muito
tempo examinando os pormenores daquilo que uma vez Charles Lamb descreveu como
os "sarampos e papeiras da alma". Aquelas mulheres tinham os seus
problemas e dificuldades pessoais, os seus "casos de consciência"; e
ele sempre tinha tempo para escrever-lhes. E muitas vezes escrevia
extensamente, com muita amabilidade. Quando ele estava em Genebra, duas
mulheres fizeram uma perigosa viagem por terra e mar com o fim de aproximar-se
dele e de participar do seu ministério. A sua correspondência com a sua sogra,
a Sra. Bowes, e também com a Sra. Ann Locke, durante muitos anos, é prova
positiva de que esse homem tinha um espírito afetuoso, quando era necessário
conhecê-lo de perto e quando ele sabia que estava lidando com uma alma veraz,
sincera e genuína. Esse é outro sinal da sua humildade. Eis outro sinal: quando
voltou para a Escócia, ele nomeou superintendentes na Igreja - não bispos. Fez
isso porque era essencial na época. Foi só um expediente temporário, eliminado
mais tarde; mas o interessante é que ele próprio nunca foi superintendente. Ele
foi tão-somente um pregador, até o fim. Nunca se designou a si próprio como
superintendente, e muito menos como arqui-superintendente. Todas essas coisas
são sinais, não somente da sua humildade, como também do seu essencial espírito
puritano.
Assim,
digamos adeus a este nobre, rude, e contudo terno e até amável espírito, ao
deixar ele este mundo e receber a sua recompensa eterna. Eis um relato feito
pela filha dele: "Perto do meio-dia, ele pediu à esposa que lesse em voz
alta o capítulo 15 da Primeira Epístola aos Coríntios, e disse que encomendava
a sua alma, o seu espírito e o seu corpo a Deus, assinalando com três dedos a
alma, o espírito e o corpo. Por volta das 5 da tarde ele disse: "Leia a
parte onde eu lanço a minha primeira âncora", e sua esposa leu para ele o
capítulo 17 do Evangelho Segundo João. Quando foram lidas as orações
vespertinas, perto das 10 da noite, o seu médico perguntou-lhe se ele tinha ouvido
as orações. Knox respondeu: "Quisera Deus que vocês e todos os homens as
ouvissem como eu as ouvi; e a Deus louvo por este som celestial".
"Agora chegou", acrescentou logo depois. Essas foram as suas últimas
palavras, e não pode haver nenhuma dúvida de que, quando ele ia atravessando,
as trombetas celestiais ressoaram no outro lado, quando este grande guerreiro
de Deus entrou, e recebeu a sua eterna "coroa de glória".
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